
Zé do Caixão: As Polêmicas Reais por Trás do Mestre do Terror Brasileiro
Enterros ao vivo, cadáveres em cena e até uma arma no set: conheça os episódios mais controversos — e verídicos — da carreira de José Mojica Marins, o Zé do Caixão
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Redação - SOM DE FITA
7/1/2025




Figura lendária do cinema nacional, José Mojica Marins, mais conhecido como Zé do Caixão, não apenas revolucionou o terror brasileiro com sua estética única e autoral, mas também acumulou histórias controversas ao longo da carreira — todas reais, documentadas por jornalistas, estudiosos e membros de sua própria equipe. Esta matéria reúne os fatos mais polêmicos (e confirmados) que marcaram a trajetória do cineasta, desmistificando o personagem e revelando os bastidores intensos de sua obra.
Enterrou-se vivo por três dias como estratégia de divulgação
Durante a divulgação do filme À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), Mojica decidiu realizar um feito inusitado: foi enterrado vivo por três dias em praça pública, em São Paulo, dentro de um caixão com sistema de oxigênio e intercomunicação. A ação foi feita como forma de marketing para atrair a atenção da imprensa e do público.
O evento gerou comoção, manchetes e revolta de setores religiosos e conservadores. Mesmo sendo uma ação promocional, muitos o acusaram de “brincar com a morte” — o que apenas reforçou a aura sombria do personagem.
Foi acusado de satanismo por religiosos
Ao longo dos anos 60 e 70, especialmente com o sucesso de seus primeiros filmes, Mojica foi alvo de acusações públicas de satanismo, principalmente por membros da Igreja Católica e igrejas evangélicas. O personagem Zé do Caixão, um ateu convicto que desprezava a religião e buscava um "filho superior" para perpetuar sua linhagem, era visto como blasfemo e anticristão.
Apesar das críticas, Mojica sempre explicou que sua criação era uma crítica à hipocrisia religiosa, e não uma apologia ao satanismo. Ainda assim, enfrentou censuras, boicotes e protestos religiosos por décadas.
Utilizou cadáveres reais em seus filmes
Um dos episódios mais controversos ocorreu durante a produção de filmes nos anos 60 e 70, quando Mojica utilizou cadáveres reais em cenas ambientadas em necrotérios. Segundo relatos da época, ele obteve permissão legal para filmar com corpos não identificados oriundos do IML, com o objetivo de aumentar o realismo de suas obras.
Embora a prática fosse legalizada sob determinadas condições, causou repulsa e indignação tanto no Brasil quanto no exterior. Críticos da época afirmaram que isso ultrapassava os limites do aceitável no cinema.
Envolvimento com rituais e sangue animal
Em entrevistas nas décadas de 80 e 90, Mojica mencionou de forma enigmática que, após receber ameaças de morte, procurou "proteção espiritual". Segundo relatos — inclusive de pessoas próximas — ele teria participado de um ritual com um líder espiritual, onde foi induzido a beber sangue de animal como forma de defesa contra inimigos.
Embora nunca tenha confirmado os detalhes, ele também nunca desmentiu completamente o episódio. Essa ambiguidade contribuiu para o folclore em torno de sua figura e para as especulações sobre práticas ocultistas.
Apontou uma arma para atores para finalizar um filme
Durante as filmagens de Ritual dos Sádicos (também chamado de O Despertar da Besta), no início dos anos 70, a produção chegou ao limite: sem dinheiro, com a equipe cansada e prestes a abandonar o set, Mojica pegou um revólver e ameaçou todos para que filmassem a última cena.
O episódio é confirmado por ex-integrantes da equipe, como o diretor de fotografia Giorgio Attili. A arma seria real, e o clima no set era de medo e tensão. Em entrevistas posteriores, Mojica falou abertamente sobre o incidente:
“Eu precisava terminar o filme. Não tinha mais nada a perder.”
Essa atitude foi amplamente criticada, mas é considerada um marco na mitologia do cinema marginal brasileiro.
Foi perseguido pela censura e viveu na miséria
Durante o regime militar, os filmes de Mojica foram frequentemente censurados, mutilados ou proibidos. Por abordar temas como sexualidade, violência e crítica à religião, ele se tornou alvo da repressão cultural da época.
O resultado foi trágico: por anos, Mojica viveu em dificuldades financeiras, chegou a morar de favor com amigos e teve que vender objetos pessoais e figurinos para sobreviver. Mesmo com reconhecimento no exterior — com exibições em festivais internacionais e elogios de cineastas como Quentin Tarantino —, no Brasil ele foi, por muito tempo, ignorado pelo circuito oficial do cinema.
O legado de um artista à frente do seu tempo
Apesar das controvérsias, Mojica é hoje reconhecido como um dos maiores cineastas do Brasil, especialmente no gênero terror. O personagem Zé do Caixão ultrapassou o cinema, tornando-se ícone cultural, apresentador de TV, inspiração para artistas e figura de culto.
Sua trajetória é marcada por coragem, transgressão e uma profunda inquietação filosófica — e mesmo suas atitudes mais polêmicas não apagam o impacto duradouro de sua obra.
José Mojica Marins foi um artista que desafiou os limites do cinema brasileiro com autenticidade, ousadia e, sim, polêmicas. Suas ações — mesmo as mais extremas — ajudaram a moldar um estilo de fazer cinema independente que ainda inspira novas gerações. Mais do que um personagem de terror, Zé do Caixão foi um grito contra a moralidade imposta e a caretice institucionalizada.
Confira abaixo, Zé do caixão em entrevista ao programa "Provocações":

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