
Vinicius de Moraes sob nova lente: o poeta que encantou o Brasil também seria alvo de críticas hoje?
Ícone da música e da literatura brasileira, Vinicius é celebrado por sua genialidade, mas sua postura diante das mulheres e a forma como viveu geram debates em tempos de revisão histórica
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Redação - SOM DE FITA
7/10/2025




Vinicius de Moraes é um dos nomes mais reverenciados da cultura brasileira. Poeta, diplomata, músico, parceiro de Tom Jobim em clássicos como Garota de Ipanema e Chega de Saudade, ele atravessou gerações como símbolo de sensibilidade e paixão. Mas, se ainda estivesse vivo em 2025, será que Vinicius passaria ileso pela cultura do cancelamento?
Essa pergunta, embora provocativa, reflete um movimento cada vez mais comum: o de reavaliar figuras históricas à luz dos valores atuais. E, nesse ponto, o “poetinha” — como era carinhosamente chamado — desperta sentimentos mistos.
Entre a poesia e o machismo
Muitos dos versos que fizeram Vinicius ganhar os corações brasileiros hoje seriam interpretados de forma crítica. Um dos exemplos mais conhecidos vem do poema “Receita de Mulher”, no qual ele escreve:
“As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.”
Trechos como esse, que por décadas foram vistos como espirituosos ou românticos, hoje são frequentemente apontados como machistas. A crítica contemporânea questiona o retrato da mulher como objeto idealizado — e, muitas vezes, descartável — presente em sua obra.
Além das palavras escritas, relatos biográficos também reforçam essa leitura. Vinicius casou-se nove vezes, cultivava uma imagem pública de conquistador boêmio e, segundo pessoas próximas, era ciumento, possessivo e muitas vezes desrespeitoso com as mulheres ao seu redor. Embora isso fosse, na época, tolerado ou até mesmo celebrado como charme, atualmente levanta questionamentos sérios.
A saída forçada do Itamaraty
Outro episódio marcante na trajetória do poeta foi sua aposentadoria compulsória do serviço diplomático, em 1968. À época, o regime militar alegou “conduta incompatível com a função pública”. Na prática, o estilo de vida boêmio, as aparições públicas alcoolizado e o desprezo pela rigidez da diplomacia pesaram contra ele.
Vinicius chegou a declarar, com seu conhecido humor ácido:
“Fui aposentado por vagabundagem.”
A frase virou símbolo de sua irreverência, mas também revela o choque entre sua natureza livre e as estruturas formais do governo da época.
Reverenciar ou rever?
A reavaliação da imagem de figuras históricas é um processo complexo. Não se trata apenas de apontar erros, mas de entender contextos. No caso de Vinicius, é impossível ignorar sua contribuição artística. Seu talento moldou a identidade da música brasileira moderna e influenciou gerações de compositores, escritores e intérpretes.
Mas, ao mesmo tempo, também é legítimo refletir sobre os valores que ele reforçou — consciente ou inconscientemente — e como essas ideias impactam a sociedade até hoje.
A historiadora Heloisa Starling resume bem esse desafio:
“Não se trata de apagar os artistas. Trata-se de enxergá-los por inteiro — com sua grandeza e suas falhas.”
Um legado que permanece... e evolui
Vinicius de Moraes não perde sua importância por conta das críticas contemporâneas. Pelo contrário. Entender as camadas da sua personalidade — do amante inveterado ao poeta genial, do diplomata rebelde ao homem de seu tempo — nos ajuda a aprofundar o diálogo sobre cultura, ética e memória.
Afinal, reconhecer os erros do passado não significa rejeitar sua arte. Significa amadurecer como sociedade e entender que até os grandes ícones têm lados que merecem ser questionados.
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