Tesouro redescoberto: pintura de Salvador Dalí comprada por 150 libras pode alcançar 30 mil em leilão

Obra rara de 1966, parte de um projeto inacabado do artista, será disputada em outubro e promete atrair colecionadores do mundo todo

Redação - SOM DE FITA

8/1/2025

Uma das características mais fascinantes do mercado de arte é a capacidade de transformar obras aparentemente esquecidas em tesouros de altíssimo valor. É o caso da pintura Vecchio Sultano, de Salvador Dalí, que será leiloada em outubro com estimativa de venda entre 20 mil e 30 mil libras (cerca de R$ 220 mil). O detalhe curioso? Ela foi comprada há apenas dois anos por 150 libras, o equivalente a pouco mais de R$ 1,1 mil.

A obra, produzida em 1966, utiliza uma combinação de aquarela e caneta hidrográfica, demonstrando a versatilidade do mestre surrealista. Mas o que a torna ainda mais especial é o contexto de sua criação: Dalí havia iniciado um projeto ousado de produzir 500 ilustrações inspiradas nos contos folclóricos do Oriente Médio, mas acabou interrompendo o trabalho após completar apenas 100 peças. Essa interrupção, somada à escassez das obras restantes, ajuda a explicar por que Vecchio Sultano desperta tanto interesse entre colecionadores e estudiosos.

Segundo Gabrielle Downie, especialista em belas artes da Cheffins, casa de leilões responsável pela venda em Cambridge, a história da pintura é cheia de reviravoltas. “Dessas 100 ilustrações, metade permaneceu com a editora Rizzoli e foi danificada ou perdida, enquanto as outras 50 ficaram com os Albarettos e foram posteriormente herdadas por sua filha, Christina, que também era afilhada de Dalí”, explicou Downie ao The Guardian.

O casal mencionado por Downie são os italianos Giuseppe e Mara Albaretto, grandes admiradores de Dalí, que haviam encomendado originalmente uma ilustração da Bíblia em 1963. No entanto, o artista espanhol preferiu retratar cenas de As Mil e Uma Noites, criando assim a série da qual Vecchio Sultano faz parte. Esse desejo de reinterpretar histórias clássicas sob seu olhar surrealista mostra não apenas a ousadia de Dalí, mas também sua busca incessante por novos desafios artísticos.

O atual proprietário da obra, que optou por não revelar sua identidade, adquiriu a pintura em uma liquidação sem imaginar que estava diante de um verdadeiro achado. Pouco depois, descobriu que a peça já havia passado pela Sotheby’s na década de 1990, com plena atribuição a Dalí. “A perda de uma atribuição é bastante rara no mundo da arte moderna, tornando esta uma redescoberta significativa para os estudiosos de Dalí”, destacou Downie.

A confirmação da autenticidade veio de um renomado especialista na obra do artista, que avaliou o trabalho entre 20 mil e 30 mil libras. A redescoberta dessa pintura não apenas valoriza o acervo de Dalí, como também reforça a importância de revisitar arquivos e coleções para identificar obras que, por diferentes razões, acabam sendo subestimadas ao longo do tempo.

O leilão de Vecchio Sultano desperta grande expectativa não apenas entre colecionadores de arte surrealista, mas também entre aqueles que acompanham o mercado de obras raras. Afinal, a trajetória dessa pintura — de um projeto interrompido a uma redescoberta de valor expressivo — exemplifica o quanto a obra de Dalí ainda pode surpreender o mundo. Mais do que um simples item de coleção, trata-se de um pedaço da história do artista, capaz de lançar novas luzes sobre sua produção no período pós-guerra.

Para especialistas, esse tipo de leilão é uma oportunidade única de compreender melhor o percurso criativo de Dalí. Ao mesmo tempo, reforça o quão imprevisível e apaixonante é o mercado de arte, no qual obras aparentemente modestas podem se revelar verdadeiros tesouros culturais. Com a data marcada para outubro, o evento promete movimentar galeristas, historiadores e entusiastas que buscam entender cada nuance da genialidade de Salvador Dalí.

mais notícias: