STEVE VAI comenta aposentadoria de DAVID COVERDALE e relembra parceria no WHITESNAKE

Guitarrista presta homenagem ao vocalista após anúncio de despedida, destacando convivência, história em comum e reflexões sobre carreira

Redação - SOM DE FITA

11/20/2025

A aposentadoria de David Coverdale, anunciada recentemente pelo vocalista, vem reverberando por todo o universo do rock. Dessa vez, quem se manifestou foi Steve Vai — guitarrista que integrou o Whitesnake no fim dos anos 1980 e que acompanhou uma das fases mais intensas e controversas da banda. Em uma longa declaração publicada nas redes sociais, Vai relembrou a convivência com Coverdale, comentou o impacto do vocalista na cultura do hard rock e refletiu sobre o encerramento de uma jornada de mais de meio século.
A fala ganhou repercussão não apenas pela admiração demonstrada, mas também por recuperar momentos marcantes da turnê "Slip of the Tongue", um dos capítulos mais debatidos da banda. A partir dela, é possível revisitar detalhes da formação, tensões internas, bastidores de gravações e até questões de saúde que moldaram tanto a trajetória de Coverdale quanto a própria dinâmica do Whitesnake ao longo dos anos.

A homenagem de Steve Vai e a relação construída no Whitesnake

Steve Vai usou suas redes sociais para comentar a aposentadoria do vocalista. Na mensagem, ele expressa gratidão pelo período em que dividiram palco e estúdio. “Quero tirar um momento para parabenizar o próprio Pai Cobra, David Coverdale, por 60 anos entregando pura brilhanteza rock 'n' roll de categoria real”, escreveu o guitarrista.

Segundo Vai, a força de Coverdale sempre esteve associada a características próprias: “David sacudiu a terra por mais de meio século com uma voz que poderia nivelar uma montanha. Com instintos impecáveis para canção, melodia, postura e atitude, sua música sempre nos deu algo que nos fazia sentir gloriosamente legais”.

Ele também relembrou a fase turbulenta e ao mesmo tempo produtiva da turnê de 1989 a 1990: “Fui sortudo o suficiente para fazer turnê e gravar ('Slip Of The Tongue') com o Whitesnake em '89–'90 ao lado de Adrian Vandenberg, Rudy Sarzo e Tommy Aldridge. A banda estava absolutamente impecável, e dividir o palco com aquele tipo de potência foi um dos verdadeiros destaques da minha carreira”.

A convivência, segundo Vai, ia além da música: “Em cada um daqueles 119 shows da turnê 'Slip Of The Tongue', David subia ao palco e entregava como um chefe. Nunca reclamou, sempre foi um cavalheiro, sempre performando como uma casa em chamas”.

O guitarrista também citou o reencontro mais recente, durante o Hellfest, em 2022: “Toquei no Hellfest com minha banda. O Whitesnake entrou depois, e David foi gentil o suficiente para me convidar para a última música da noite, 'Still Of The Night'. Sempre amei tocar essa faixa… e estar de volta ao palco com David foi uma honra”.

E conclui com tom reflexivo: “Depois dos meus próprios 50 anos como músico profissional, há algo que sei com certeza: o sucesso é ótimo, os palcos são divertidos, os riffs são altos — mas são as pessoas que você encontra ao longo do caminho, e as amizades que você constrói, que acabam significando mais. Você é um cara de classe. Você veio, você conquistou e você entregou, e somos todos gratos”.

Aposentadoria, saúde fragilizada e o fim de um ciclo

No anúncio oficial, Coverdale deixou claro que a decisão foi motivada por questões de saúde e pela percepção de que não poderia mais manter o ritmo. Em vídeo recente, afirmou: “Os últimos anos deixaram muito evidente para mim que realmente é hora de pendurar meus sapatos plataforma de rock and roll e minhas calças justas. E como podem ver, já cuidamos da peruca do leão. Mas é hora de encerrar”.

O vocalista agradeceu ao público e aos colegas de estrada: “Amo vocês profundamente. Agradeço a todos que me ajudaram e apoiaram nesta jornada incrível. Todos os músicos, equipe, fãs, família. É incrível”.

Os problemas de saúde não são novidade. Em junho de 2022, três shows da turnê europeia foram cancelados devido a uma infecção de sinus e traqueia. Pouco depois, a banda encerrou todo o giro. Reb Beach e Tommy Aldridge também enfrentaram dificuldades físicas naquele período.

Em 2023, Coverdale explicou em entrevista que os impactos foram profundos: “Levou sete meses para me livrar de uma infecção sinusal que foi tão fundo no meu corpo… E então descobrimos uma secundária, por isso tive que cancelar a turnê dos EUA”. Segundo ele, o tratamento incluía antibióticos fortes e uso prolongado de corticoides.

O vocalista também afirmou que ainda recebia propostas para novas turnês, incluindo residências em Las Vegas, mas que continuava incerto: “Sinto que devo ao Japão. Devo aos EUA. Devo à América do Sul. Mas minha saúde ditará se posso encarar uma turnê completa”.

O legado de "Slip of the Tongue" e os bastidores da parceria com Vai

O álbum "Slip of the Tongue", lançado em 1989, é um capítulo complexo na história do Whitesnake — ao mesmo tempo celebrado pelos fãs e criticado por distanciar a banda de sua sonoridade tradicional. Na época, a formação incluía Coverdale, Rudy Sarzo, Tommy Aldridge, Adrian Vandenberg e Steve Vai.

Vandenberg chegou a compor quase todo o disco com Coverdale, mas não pôde gravar devido a uma lesão no pulso. A entrada de Steve Vai para substituir o guitarrista na gravação e na turnê acabou criando uma nova identidade sonora, mais carregada e veloz. O próprio Vai reconhece, em retrospecto, que precisou equilibrar expectativas: “Você precisa encontrar um equilíbrio entre o que a banda espera, o que os fãs esperam, o que a música pede — e também ser fiel à sua própria voz”.

Ele comentou ainda o desafio de não soar como John Sykes, guitarrista responsável pelo icônico álbum de 1987: “Sykes não soava como nenhum outro guitarrista anterior do Whitesnake, mas sua marca é indelével. Eu sabia que não iria soar como ele e nem tentaria. Você se engana quando tenta tocar como outra pessoa”.

Apesar das tensões, "Slip of the Tongue" alcançou posições altas nas paradas dos EUA e do Reino Unido e rendeu hits como “Fool for Your Loving” e “The Deeper the Love”. Em 2019, recebeu uma edição especial de sete discos, reforçando seu status dentro da discografia da banda.

Décadas depois, o reencontro dos cinco integrantes originais — ainda que virtual — comprovou o impacto daquele período. Para muitos fãs, aquela fase marcou o fim de um Whitesnake clássico e o início de uma transição definitiva.

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