STEVE LUKATHER: O Guitarrista Completo que Elevou a Música a Outro Patamar

Da Toto aos palcos do mundo, como o músico se tornou referência de versatilidade, inovação e legado

Redação - SOM DE FITA

10/2/2025

Poucos nomes na história da música moderna conseguem unir, de forma tão clara, técnica, criatividade e influência cultural quanto Steve Lukather. Nascido em 1957, em Los Angeles, o guitarrista, cantor, compositor e produtor é conhecido principalmente por ser membro fundador da lendária banda Toto, mas sua carreira vai muito além dos sucessos que marcaram os anos 70 e 80. Lukather é um verdadeiro fenômeno da guitarra, não apenas pelo virtuosismo que exibe em solos e improvisos, mas também pela capacidade de se adaptar a diferentes estilos, servindo sempre à canção e ao conjunto da obra.

Com décadas de atividade, ele acumula feitos impressionantes: participou de mais de 1.500 gravações de estúdio, foi colaborador de artistas do calibre de Michael Jackson, Paul McCartney e Eric Clapton, e construiu uma carreira solo respeitada. Essa combinação de talento, produtividade e impacto fez com que fosse considerado, por críticos e colegas de profissão, um dos maiores guitarristas da história da música. Mas afinal, o que explica essa reputação?

A Toto como vitrine de genialidade e o surgimento de um mestre

Quando Steve Lukather se uniu a David Paich, Jeff Porcaro e outros músicos em 1977 para formar a Toto, talvez não imaginasse que estava prestes a escrever uma das páginas mais sofisticadas do rock mundial. A banda nasceu em Los Angeles como um supergrupo de músicos de estúdio, todos já experientes e respeitados pela indústria fonográfica. O que os diferenciava era a capacidade de misturar pop, rock, funk e jazz em um repertório altamente acessível, mas ao mesmo tempo recheado de arranjos complexos.

Foi nesse cenário que Lukather brilhou. Seus riffs e solos ajudaram a criar o DNA sonoro da Toto, sempre equilibrando técnica e emoção. Hold the Line, um dos primeiros hits do grupo, já mostrava sua pegada marcante, com acordes firmes e um solo cheio de energia. Poucos anos depois, músicas como Rosanna e Africa provaram que ele não era apenas um guitarrista virtuoso, mas também um artista capaz de criar melodias icônicas que atravessariam gerações.

Em 1983, a Toto conquistou seis prêmios no Grammy, incluindo Gravação do Ano com Rosanna. Lukather, como guitarrista e cantor em algumas faixas, foi peça fundamental nesse reconhecimento. Sua habilidade em se destacar sem sobrecarregar a música mostrou uma maturidade que poucos músicos de sua idade possuíam. Mais do que mostrar velocidade ou virtuosismo, ele sabia exatamente quando e como sua guitarra deveria soar. Essa postura, mais focada na canção do que no ego, já indicava por que ele seria lembrado como um dos maiores.

O músico de estúdio que moldou a sonoridade do pop e do rock

Enquanto a Toto conquistava multidões, Steve Lukather se consolidava paralelamente como um dos músicos de estúdio mais requisitados de sua geração. Sua guitarra aparece em alguns dos álbuns mais importantes da história da música, incluindo Thriller (1982), de Michael Jackson — o disco mais vendido de todos os tempos. Lukather foi responsável pelas guitarras em Beat It (ao lado de Eddie Van Halen) e também em Human Nature, mostrando sua capacidade de transitar entre estilos sem perder identidade.

E não parou por aí. Ele colaborou com artistas como Paul McCartney, Elton John, Eric Clapton, Lionel Richie, Joe Cocker, Miles Davis e até Aretha Franklin. Essa lista impressionante é um retrato da confiança que produtores e artistas tinham em seu talento. Em qualquer gênero, fosse no rock, pop, soul ou jazz, Lukather conseguia se adaptar e entregar um resultado de excelência.

Essa faceta de músico de estúdio é muitas vezes menos visível ao público, mas extremamente valorizada dentro da indústria musical. Ser chamado para tocar em tantas gravações icônicas é um atestado de que ele não apenas domina o instrumento, mas sabe compreender e respeitar o que cada artista deseja transmitir. Por isso, críticos e colegas de profissão o colocam em uma categoria especial: a dos músicos que ajudaram a moldar a sonoridade de uma era inteira.

Comparando Lukather com outros gigantes da guitarra

Quando se fala em grandes guitarristas da história, nomes como Eric Clapton, Jeff Beck e Eddie Van Halen quase sempre aparecem. Todos, cada um a seu modo, revolucionaram o instrumento e inspiraram gerações. Porém, ao analisarmos a carreira de Steve Lukather, fica claro que sua grandeza se constrói em um aspecto muitas vezes menos evidente: a versatilidade absoluta.

Eric Clapton, por exemplo, é reconhecido como um dos maiores guitarristas de blues e rock, dono de uma sonoridade marcada pela emoção e pelo fraseado cheio de alma. Clapton construiu uma carreira de enorme sucesso, mas sempre dentro de um espectro muito específico: o blues-rock. Já Jeff Beck, considerado por muitos o mais inovador de sua geração, mergulhou em experimentações que iam do rock psicodélico ao jazz fusion, criando novas linguagens para a guitarra. Beck, no entanto, manteve-se mais distante do mainstream, cultivando uma carreira respeitada, mas com menor alcance popular.

Eddie Van Halen, por sua vez, foi revolucionário em termos técnicos. Seu estilo veloz e a introdução do tapping mudaram para sempre a forma como a guitarra elétrica era tocada. Van Halen é celebrado pela inovação pura, sendo um símbolo da era do hard rock e do virtuosismo oitentista.

É nesse ponto que Steve Lukather se diferencia. Ele não apenas dominou a técnica — algo que o coloca no mesmo nível de Van Halen e Beck — como também conseguiu atuar em diferentes gêneros e contextos de forma magistral. Enquanto Clapton se destacou no blues, Beck na experimentação e Van Halen na inovação técnica, Lukather brilhou em todos os cenários ao mesmo tempo: pop, rock, jazz, funk, soul e até música experimental. Essa versatilidade não só o tornou um músico indispensável para a Toto, mas também o levou a ser requisitado por artistas de todos os estilos.

Outro ponto importante: enquanto Clapton, Beck e Van Halen eram vistos quase exclusivamente como guitarristas de palco e gravação dentro de suas próprias bandas, Lukather foi além. Ele se tornou um pilar da indústria fonográfica, moldando a sonoridade de discos históricos sem necessariamente aparecer nos holofotes. Esse papel de “arquiteto invisível” da música pop o coloca em uma posição única.

O equilíbrio entre virtuosismo e musicalidade

O que realmente diferencia Lukather é o equilíbrio entre virtuosismo técnico e sensibilidade musical. Enquanto muitos guitarristas se perdem na busca por velocidade ou pirotecnia, Lukather sempre priorizou a música em si. Seu solo em Rosanna, por exemplo, é frequentemente citado como um dos mais icônicos não por sua complexidade técnica, mas pela forma como conversa com a melodia e eleva a canção.

Essa postura o distancia de Eddie Van Halen, por exemplo, que muitas vezes era celebrado pela explosão técnica, mas criticado por usar a guitarra quase como um espetáculo visual. Lukather, em contrapartida, é lembrado por fazer a guitarra respirar dentro da canção, algo mais próximo da filosofia de Clapton, mas com muito mais amplitude estilística.

Comparado a Jeff Beck, Lukather talvez não tenha sido tão radicalmente experimental, mas compensou isso com a habilidade de se mover entre o experimental e o comercial sem perder credibilidade. Ele conseguia gravar um solo sofisticado para um disco de jazz fusion em um dia e, no seguinte, criar arranjos de guitarra para uma canção pop que tocaria no rádio do mundo inteiro.

Steve Lukather, guitarrista do Toto | Foto: Medios y Media/Getty Images

O reconhecimento da crítica e da indústria

A crítica musical frequentemente coloca Steve Lukather como um dos guitarristas mais injustamente subestimados pelo grande público. Isso porque, ao contrário de Clapton e Van Halen, ele nunca cultivou a imagem de “rockstar” em primeiro plano. Sua personalidade mais discreta, somada ao trabalho intenso como músico de estúdio, fez com que fosse mais reconhecido entre profissionais da música do que pelo ouvinte comum.

Porém, na indústria, seu reconhecimento é incontestável. Múltiplos prêmios Grammy, convites para participar dos álbuns mais importantes da história e a admiração de músicos de diferentes gerações provam que Lukather não só acompanhou os gigantes, como também, em muitos aspectos, os superou. Enquanto Clapton é o “deus da guitarra” para o blues-rock e Van Halen foi o ícone da inovação técnica, Lukather conquistou o título de “o guitarrista completo”, aquele que domina todos os terrenos com maestria.

Carreira solo e a perpetuação de um legado

Paralelamente à Toto e às colaborações, Steve Lukather construiu uma carreira solo consistente, lançando álbuns que exploram sua criatividade sem amarras. Discos como Luke (1997), All’s Well That Ends Well (2010) e I Found the Sun Again (2021) mostram seu interesse por sonoridades variadas, sempre unindo técnica e emoção.

Mais do que um guitarrista, Lukather é uma inspiração para novas gerações de músicos. Sua carreira comprova que a grandeza não está apenas em impressionar com velocidade ou virtuosismo, mas em construir algo duradouro e significativo para a música. Hoje, ele segue ativo, em turnês e gravações, mantendo vivo o espírito que o levou ao topo.

Steve Lukather é um caso raro na música: um guitarrista que consegue estar no mesmo patamar de Clapton, Beck e Van Halen, mas por razões diferentes. Se cada um deles brilhou em um território, Lukather brilhou em todos. Sua versatilidade, sua musicalidade e seu impacto cultural o transformaram não apenas em um ícone, mas em um verdadeiro patrimônio da música mundial.

Seja nos palcos da Toto, nos estúdios de Los Angeles ou nos discos mais vendidos da história, ele provou que a grandeza de um guitarrista não está apenas na técnica, mas na capacidade de emocionar, transformar e eternizar a música.

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