STEVE HARRIS descarta aposentadoria imediata, mas admite que o futuro do IRON MAIDEN é imprevisível

Baixista fala sobre envelhecimento na estrada, mudanças internas e a realidade de tocar heavy metal aos 70 anos

Redação - SOM DE FITA

12/5/2025

A longevidade no heavy metal sempre foi motivo de debate — especialmente quando envolve bandas que atravessaram décadas e hoje lidam diretamente com as limitações naturais do tempo. Em meio a esse cenário, Steve Harris, fundador e baixista do Iron Maiden, voltou a abordar o tema da aposentadoria, desta vez em entrevista à Kerrang!. Às vésperas de completar 70 anos em março de 2026, o músico deixou claro que ainda não considera parar, mas reconhece que a marcha dos anos impõe um clima de incerteza permanente.

A fala de Harris surge em um momento em que o Iron Maiden vive uma fase peculiar: segue ativo, lançando discos e excursionando mundialmente, enquanto enfrenta adaptações inevitáveis — como a recente saída de Nicko McBrain das turnês. A conversa reacende discussões sobre o futuro da banda e sobre como seus integrantes lidam com a responsabilidade de manter vivo um dos maiores nomes do metal sem ignorar a realidade física que acompanha a idade.

A visão de Harris sobre envelhecer no palco

Mesmo com quase cinco décadas de carreira, Steve Harris não demonstra disposição para se afastar da estrada. Pelo contrário, em tom direto, ele afirmou que a aposentadoria não está em seus planos atuais. “Não estou pensando em aposentadoria. Mas todos sabemos que ela chegará em algum momento, quando seremos forçados a isso por uma coisa ou outra”, disse.

O baixista reforçou que ainda se sente fisicamente preparado para seguir trabalhando em ritmo intenso, citando hábitos esportivos como parte da rotina que o mantém ativo. “Continuo em forma, jogando futebol, tênis e outras coisas, mas nunca se sabe o que o futuro reserva. É por isso que temos que aproveitar ao máximo enquanto podemos, curtindo cada show pelo simples prazer de fazê-lo.”

A fala sintetiza o equilíbrio delicado que muitos músicos veteranos enfrentam: ao mesmo tempo em que não há vontade de encerrar um ciclo, existe a consciência de que a profissão exige mobilidade, energia e resistência — três elementos que inevitavelmente mudam com o passar dos anos.

Harris, no entanto, demonstra saber navegar esse limiar com naturalidade. Ele enxerga a permanência no palco menos como insistência e mais como escolha consciente de aproveitar o que a música ainda proporciona. Essa postura ajuda a explicar a longevidade do Iron Maiden, sempre sustentada por disciplina, constância e um senso de propósito que acompanha a banda desde 1975.

Steve Harris diz que segue em plena forma e aproveita cada show “pelo simples prazer de fazê-lo”, mas admite que o futuro é imprevisível — Foto: Reprodução

British Lion, estrada e o medo de desacelerar

Além do Iron Maiden, Harris mantém um ritmo paralelo com o British Lion, projeto que voltou à estrada no Reino Unido. As turnês menores e mais diretas parecem alimentar no músico uma sensação de juventude que ele associa aos primeiros anos de banda.

Segundo ele, esses shows funcionam quase como um lembrete da época em que era preciso consolidar seu nome noite após noite. “De certa forma, tenho medo de parar, medo de diminuir o ritmo. Mas fazer shows como esses traz de volta aquela sensação antiga... trata-se daquela sensação de estar lá fora lutando pela banda, provando seu valor todas as noites.”

Essa confissão humaniza ainda mais o debate sobre envelhecer no rock. Não se trata apenas de perder ritmo físico; envolve também a ameaça de perder um estilo de vida construído ao longo de décadas. Para Harris, reduzir o ritmo parece representar não apenas interrupção de trabalho, mas ruptura emocional com algo que moldou sua trajetória.

O British Lion, nesse sentido, funciona como um espaço onde o baixista reencontra a essência crua de tocar em palcos menores, com contato mais direto com o público e sem a megaestrutura de um show do Iron Maiden. Isso permite que ele mantenha a vitalidade criativa e, ao mesmo tempo, exercite um formato de performance mais próximo do início da carreira.

O impacto das mudanças internas e a realidade que o Maiden enfrenta

Embora Harris demonstre otimismo pessoal, o Iron Maiden como instituição sente os efeitos do tempo. A banda passou por uma de suas maiores transições recentes quando Nicko McBrain, aos 72 anos, fez seu último show com o grupo — uma apresentação que aconteceu em São Paulo — e decidiu se afastar das turnês por questões de saúde.

McBrain, responsável por algumas das performances de bateria mais icônicas da história do metal, segue envolvido nos bastidores, mas sua saída dos palcos marcou uma mudança inevitável. Desde então, Simon Dawson tem assumido a bateria nas apresentações ao vivo.

A despedida parcial de McBrain serviu como alerta para os fãs e, possivelmente, para os próprios integrantes. Embora a banda sempre tenha mantido uma postura de força e continuidade, episódios como esse mostram que a manutenção do Iron Maiden no formato tradicional depende de fatores que fogem ao controle.

Para uma banda cuja identidade está fortemente ligada à presença de seus membros originais, mudanças desse tipo trazem uma camada extra de incerteza sobre o futuro. A fala de Harris — reconhecendo que “nunca se sabe o que o futuro reserva” — ganha ainda mais peso nesse contexto, revelando que a permanência no palco não depende apenas de vontade, mas de uma combinação de saúde, oportunidades e adaptação.

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