SOM POR ELAS: a nova força que quer reequilibrar o jogo para mulheres na música
Plataforma baiana aposta em formação, conexões e oportunidades para reduzir desigualdades no mercado musical
Redação - SOM DE FITA
12/8/2025




O debate sobre a presença feminina no mercado da música não é novo, mas segue urgente. Entre palcos, bastidores e cargos de decisão, a pergunta ainda persiste: onde estão as mulheres? Em um setor historicamente desigual, iniciativas estruturadas e contínuas ainda são raras — e é justamente nesse vácuo que surge a Plataforma Som Por Elas, criada por duas profissionais baianas que decidiram transformar incômodo em ação concreta. Com uma proposta voltada exclusivamente para mulheres que atuam ou desejam atuar no Music Business, o projeto nasce como ferramenta prática para formação, aceleração e fortalecimento de carreiras dentro da indústria.
Com raízes no pagode baiano e construção metodológica que dialoga com educação, gestão e comunicação musical, a plataforma chega ao mercado com o objetivo de responder a uma necessidade já amplamente reconhecida: ampliar o acesso feminino a conhecimento estratégico, oportunidades reais e conexões profissionais. A seguir, detalhamos como a iniciativa saiu das salas de aula e se tornou um ecossistema digital que pretende movimentar o setor nos próximos anos.
Da inquietação ao negócio: como uma ideia universitária virou plataforma profissional
A história da Som Por Elas começa com as jornalistas e empresárias Beatriz Almeida e Joyce Melo, que observaram de perto o distanciamento entre mulheres e as oportunidades mais estratégicas do mercado musical. Joyce sintetiza essa disparidade em uma frase que deu origem ao projeto: “Mulheres não acessam oportunidades, contatos e conhecimentos estratégicos no Music Business, sobretudo as mulheres nordestinas e baianas”. O diagnóstico não era novo, mas a abordagem pensada para enfrentá-lo era.
O pontapé inicial veio ainda na faculdade, quando a dupla desenvolveu o projeto Pagode Por Elas, um trabalho de conclusão que investigava a falta de protagonismo feminino no pagode baiano. A pesquisa revelou um cenário repetitivo: mulheres presentes, mas raramente reconhecidas como força criativa e profissional do gênero. A partir daí, a ideia se expandiu.
O que começou como um TCC se transformou em uma empresa com diferentes frentes dedicadas à gestão de carreira, desenvolvimento artístico e comunicação musical. A transição natural, segundo as fundadoras, ocorreu porque a demanda existia — só faltava alguém disposto a estruturá-la. Assim nasceu a Som Por Elas, agora como plataforma, com cursos, mentoras, programas de aceleração e uma comunidade que pretende se multiplicar.



O projeto começou na faculdade, com o Pagode Por Elas, que investigava a ausência de protagonismo feminino no pagode baiano e acabou dando origem à plataforma — Foto: Reprodução

Formação, rede e acesso: o que a plataforma oferece às mulheres do mercado musical
No centro da proposta está um ecossistema que combina conteúdo educacional, suporte prático e a possibilidade de aproximação com profissionais experientes da indústria. A plataforma oferece trilhas formativas que abrangem desde os primeiros passos na carreira até temas como identidade artística, estratégias de distribuição, construção de venda de shows e noções de planejamento.
Além do conteúdo técnico, um dos pilares da iniciativa é a criação de conexões. O objetivo é aproximar as participantes de profissionais que já atuam em posições-chave dentro do setor e que, muitas vezes, não são acessíveis para artistas em início de trajetória. Entre os nomes envolvidos na formação estão Ziati Comazi (produtor e gestor cultural), Ana GB (produtora cultural e artística), Anne Rodrigues (produtora e diretora criativa), Lívia Nery (cantora e produtora musical) e Madu Abreu (especialista em marketing digital do cantor Léo Santana).
Outro ponto central é a disponibilização de oportunidades e premiações. A fase de testes da plataforma mostrou isso na prática: 50 mulheres tiveram acesso gratuito ao sistema para avaliar conteúdo, navegação e metodologia. Quatro delas foram selecionadas para uma aceleração completa, que incluiu produção de single, ensaio fotográfico, visualizer e planejamento de comunicação.
A artista baiana Neftara, uma das contempladas, descreveu a experiência como transformadora: “Foi um espaço de troca, aprendizado e fortalecimento, que me inspirou profundamente”. O relato reforça a proposta de criar não apenas uma central de cursos, mas uma comunidade ativa, capaz de gerar suporte e troca contínua.
Sustentabilidade, investimento e apoio público: os próximos passos da iniciativa
Atualmente, a Som Por Elas disponibiliza 11 cursos com assinatura anual de R$ 897 — valor que pode ser parcelado em R$ 91,28 mensais. Segundo Beatriz Almeida, o modelo foi pensado para equilibrar sustentabilidade financeira e oferta de conteúdo acessível. Ela afirma: “Estamos falando apenas do início da nossa jornada, temos projetos grandiosos a serem realizados nos próximos anos”.
O desenvolvimento da plataforma contou com apoio de políticas públicas de fomento cultural, incluindo recursos do Edital Gregórios – Ano IV, da Fundação Gregório de Mattos e da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. A iniciativa também integra a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), do Ministério da Cultura, o que reforça sua posição como projeto estruturante e reconhecido institucionalmente.
Com metas ambiciosas e foco contínuo em capacitação, a Som Por Elas se coloca como uma ferramenta para reduzir desigualdades que persistem há décadas na indústria da música. A plataforma aposta no conhecimento como equalizador e no fortalecimento coletivo como caminho para que mais mulheres ocupem os espaços que historicamente lhes foram negados — seja no palco, na técnica, na gestão ou na criação.
Em um setor ainda marcado por barreiras estruturais, iniciativas como essa mostram que transformação não acontece apenas nos discursos, mas nas práticas que abrem portas e ampliam possibilidades. A Som Por Elas surge, portanto, como um movimento que reúne formação, estratégia e impacto social, construído a partir de uma perspectiva nordestina e feminina que, por muito tempo, esteve sub-representada.
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