ROCKSTAR GAMES é acusada de repressão sindical após demissões no Reino Unido e Canadá

Estúdio de GTA 6 nega as acusações e afirma que desligamentos ocorreram por “má conduta grave”, mas o caso reacende o debate sobre direitos trabalhistas na indústria dos games

Redação - SOM DE FITA

11/4/2025

A Rockstar Games, uma das desenvolvedoras mais influentes e controversas da história dos videogames, voltou ao centro das atenções — desta vez, não por causa do aguardado GTA 6, mas por uma série de demissões que levantaram sérias acusações de repressão sindical. Segundo informações publicadas pela Bloomberg, entre 30 e 40 funcionários foram dispensados de escritórios no Reino Unido e no Canadá, e todos eles fariam parte de um grupo sindical privado mantido em um servidor do Discord.

A situação rapidamente se tornou um dos assuntos mais comentados da semana no meio gamer, reacendendo discussões antigas sobre as condições de trabalho na indústria e os desafios enfrentados por quem tenta se organizar coletivamente.

Demissões em massa e acusações de repressão sindical

O sindicato britânico IWGB (Independent Workers’ Union of Great Britain) foi o primeiro a se pronunciar sobre o caso, acusando a Rockstar de práticas antiéticas e de retaliar funcionários que buscavam melhorias nas condições de trabalho. Em comunicado público, o grupo classificou a decisão da empresa como “um dos atos mais cruéis da indústria dos games”.

A acusação se baseia na alegação de que todos os profissionais demitidos estavam envolvidos em discussões sobre sindicalização e direitos trabalhistas dentro da empresa. O IWGB afirma ainda que as conversas no Discord não violavam políticas internas e eram de caráter privado.

Por outro lado, a Rockstar Games negou as acusações e afirmou, em nota oficial, que as demissões ocorreram por “má conduta grave”. A desenvolvedora, no entanto, não especificou quais teriam sido essas condutas nem apresentou detalhes sobre o processo interno que levou às dispensas.

Essa falta de transparência acabou intensificando o debate público. Especialistas e ex-funcionários apontam que o histórico da Rockstar em relação a questões trabalhistas não ajuda na credibilidade da defesa da empresa — especialmente após denúncias passadas sobre jornadas exaustivas durante o desenvolvimento de Red Dead Redemption 2.

Histórico de controvérsias e cultura de “crunch”

Não é a primeira vez que a Rockstar é criticada por sua cultura de trabalho. Em 2018, durante a reta final da produção de Red Dead Redemption 2, diversos relatos vieram a público descrevendo longas jornadas de até 100 horas semanais. As denúncias colocaram a empresa sob os holofotes e abriram espaço para um movimento maior de conscientização sobre o “crunch” — termo usado para descrever períodos de trabalho intensivo e sem descanso, muitas vezes imposto por prazos apertados e pressão executiva.

Na época, a companhia prometeu rever seus processos internos e melhorar o bem-estar dos funcionários, o que levou à criação de algumas políticas de flexibilidade e novos canais de comunicação entre equipes. No entanto, o recente episódio sugere que os problemas de bastidores podem estar longe de uma solução definitiva.

GTA 6 tem lançamento previsto para 2026 nos consoles PS5 e Xbox Series X|S | Imagem: Divulgação/Rockstar Games

A indústria de games como um todo também vem enfrentando um cenário de instabilidade. Grandes empresas como Microsoft, Bungie, Epic Games e Unity já realizaram cortes expressivos em 2024 e 2025, atingindo milhares de profissionais em todo o mundo. Muitos desses desligamentos afetaram estúdios que vinham tentando implantar práticas de sindicalização e reivindicação por melhores condições de trabalho.

Nesse contexto, o caso da Rockstar surge como mais um capítulo em uma série de conflitos que expõem as tensões entre os interesses corporativos e os direitos dos desenvolvedores.

Impactos na imagem da Rockstar e o futuro da indústria

A repercussão das demissões chega em um momento delicado para a Rockstar Games. O estúdio está em contagem regressiva para o lançamento de Grand Theft Auto VI, um dos jogos mais aguardados da história recente, previsto para 2025. Qualquer ruído envolvendo a reputação da empresa tem potencial para gerar danos à imagem da marca, tanto perante o público quanto entre os profissionais da área.

Embora a Rockstar tenha tentado conter a polêmica com uma resposta direta, o silêncio sobre detalhes do caso acabou alimentando especulações. Analistas apontam que, mesmo que as demissões tenham ocorrido por razões legítimas, o fato de todos os desligados estarem ligados a um grupo sindical privado levanta questionamentos sobre o grau de liberdade que funcionários realmente têm para se organizar dentro da empresa.

Além disso, há uma preocupação crescente sobre como essas situações podem afetar o moral das equipes que ainda trabalham na companhia. Muitos desenvolvedores relatam nas redes sociais um clima de insegurança e desconfiança, o que pode influenciar o desempenho dos projetos em andamento.

A longo prazo, casos como esse reforçam a urgência de regulamentações trabalhistas mais claras na indústria de jogos — um setor que movimenta bilhões de dólares anualmente, mas que ainda carece de estruturas sólidas de proteção aos profissionais.

O que esperar daqui pra frente

Enquanto o IWGB promete recorrer a todas as vias legais disponíveis para contestar as demissões, a Rockstar segue firme no desenvolvimento de seu próximo grande título. Apesar das polêmicas, a expectativa em torno de GTA 6 permanece altíssima, e analistas do mercado acreditam que o impacto financeiro das acusações será limitado — ao menos no curto prazo.

Ainda assim, a pressão pública pode levar a mudanças significativas. O avanço dos sindicatos no setor de tecnologia e entretenimento é uma tendência mundial, e cada novo caso repercutido na mídia serve como combustível para fortalecer o debate.

Seja qual for o desfecho, o episódio deixa uma lição importante: a era em que empresas de jogos podiam operar sem prestar contas sobre o tratamento dado aos seus funcionários está ficando para trás. Num momento em que a indústria busca amadurecer, o equilíbrio entre produtividade, ética e bem-estar se tornou uma pauta central — e, como mostra o caso da Rockstar, ainda há um longo caminho pela frente.

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