Nos Estados Unidos, uma combinação no mínimo curiosa está chamando atenção: drones com alto-falantes tocando músicas do AC/DC e trechos dramáticos da voz de Scarlett Johansson. Essa tática, que parece saída de um filme, tem sido usada por fazendeiros e pesquisadores para afastar lobos cinzentos e proteger rebanhos. “Thunderstruck”, um dos maiores clássicos da banda australiana, e até falas intensas do longa História de um Casamento têm se mostrado surpreendentemente eficazes na missão de dispersar os predadores.

“Chegamos a interromper um ataque em andamento com o drone sonoro”, contou Dustin Ranglack, pesquisador do Departamento de Agricultura dos EUA, em entrevista ao The Independent.

O método está sendo aplicado especialmente na região da Bacia de Klamath, no Oregon, onde os ataques de lobos vinham causando prejuízos significativos. Segundo dados oficiais, apenas na Califórnia, foram registradas 27 mortes de bezerros entre março e abril deste ano.

Por que os lobos voltaram a ser um desafio?

O problema ganhou proporções maiores desde o retorno dos lobos cinzentos aos EUA, iniciado em 1995, como parte de um esforço de repovoamento da espécie. Embora a reintrodução tenha sido vista como um avanço ambiental, ela também trouxe consequências inesperadas para pecuaristas.

Na prática, a convivência entre rebanhos e lobos ainda é delicada. Os animais, que buscam alimento de forma instintiva, veem no gado uma presa relativamente fácil. Isso tem levado fazendeiros a buscar alternativas que não envolvam necessariamente a eliminação dos predadores — e é aí que entram os drones com rock pesado e “gritos de mulher enfurecida”.

Uma solução tecnológica (e barulhenta)

A ideia pode parecer excêntrica, mas o impacto foi imediato. De acordo com os pesquisadores, antes da implementação dos drones, os ataques na Bacia de Klamath chegavam a ocorrer praticamente um dia sim, outro não. Com a nova estratégia, a média caiu para menos de uma ocorrência por mês.

Os drones são equipados com alto-falantes que tocam em volume alto músicas como “Back in Black” e “Thunderstruck”, do AC/DC. Além disso, foram incluídos trechos dramáticos do filme História de um Casamento, estrelado por Scarlett Johansson, em que a atriz aparece gritando em meio a uma discussão intensa. Esses sons, aparentemente imprevisíveis para os lobos, causam confusão e fazem os animais recuarem rapidamente.

“É um método não letal que tem se mostrado bastante eficiente, ao menos no curto prazo”, destacou Ranglack.

Entre a proteção do gado e a preservação da espécie

Apesar do sucesso da iniciativa, o tema está longe de ser consensual. Grupos ambientalistas alertam que o lobo cinzento continua sendo uma espécie vulnerável. Em 2021, por exemplo, no estado de Wisconsin, caçadores mataram 218 lobos em apenas três dias, após a suspensão das regras federais que garantiam proteção aos animais.

Esse cenário reforça um debate antigo: como equilibrar a preservação da fauna com as necessidades econômicas da pecuária? Para os defensores dos lobos, é fundamental que estratégias não letais, como os drones sonoros, ganhem espaço em detrimento da caça. Já para alguns produtores, essas medidas ainda precisam ser testadas em larga escala para comprovar sua eficácia a longo prazo.

O som como ferramenta de defesa

A escolha do repertório para os drones não é aleatória. Sons estridentes e inesperados têm maior capacidade de desorientar os lobos. “Poucos sons são mais eficazes para intimidar do que a abertura estrondosa de ‘Thunderstruck’”, brincou um dos fazendeiros que adotou a técnica.

Além da música, a inclusão da voz de Scarlett Johansson em cenas de alta carga emocional reforça o efeito surpresa. Para os animais, que reagem instintivamente a estímulos desconhecidos, esse tipo de som se torna um fator de intimidação.

E o futuro dessa estratégia?

Embora ainda em fase experimental, a prática tem despertado interesse de outros estados e até de países que enfrentam situações semelhantes. O uso de drones com sons programados pode representar um novo caminho para lidar com conflitos entre pecuaristas e predadores sem recorrer à violência.

Enquanto isso, o debate sobre a preservação dos lobos e a proteção dos rebanhos continua. Se depender da criatividade dos fazendeiros e da potência do rock clássico, ao menos por enquanto, a convivência entre as partes tem encontrado um ponto de equilíbrio.

No fim das contas, a estratégia reforça uma lição curiosa: quando o assunto é proteger rebanhos, AC/DC e Scarlett Johansson podem formar uma dupla tão eficaz quanto improvável.

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