
Rixas Históricas do Underground Brasileiro: Quando o Ódio Falou Mais Alto Que o Som
Brigas, tretas e rivalidades que moldaram — ou quase destruíram — cenas inteiras do rock e metal alternativo no Brasil
LISTAS
Redação - SOM DE FITA
6/12/2025




O underground brasileiro sempre foi um campo de batalha. Entre ensaios em porões abafados e shows em casas decadentes, a tensão entre bandas, selos, produtores e até zines foi combustível para algumas das histórias mais insanas e bizarras da música alternativa nacional. Longe dos holofotes da grande mídia, as rivalidades ferviam nos bastidores, nos palcos e até nas páginas de encartes xerocados. Muitas dessas tretas marcaram época e ajudaram a definir a postura, o som e até a identidade de bandas que lutavam não apenas por espaço, mas por respeito e sobrevivência em uma cena muitas vezes hostil.
Nesta lista, relembramos algumas das rixas mais emblemáticas do underground brasileiro — confrontos que deixaram cicatrizes, memes e, em alguns casos, músicas clássicas como resposta.
Ratos de Porão vs. Olho Seco – A treta das trincheiras do punk paulista
No início dos anos 1980, a cena punk paulistana era um barril de pólvora. Ratos de Porão e Olho Seco, duas das bandas mais importantes do movimento, se desentenderam feio. O motivo? Divergências ideológicas, acusações de “vender-se” e rivalidades territoriais em shows e ocupações. A rivalidade chegou ao ponto de brigas físicas em shows e ameaças públicas, tornando-se um símbolo da instabilidade e do radicalismo da época. Apesar de alguns integrantes hoje manterem respeito mútuo, a tensão daquela época ainda ecoa.
Holocausto vs. Sarcófago – O ódio nasceu em Minas
Ambas vindas de Minas Gerais e ligadas ao núcleo que formou o Brazilian Black Metal nos anos 80, Holocausto e Sarcófago não se bicavam nem um pouco. Sarcófago, liderado por Wagner Lamounier (ex-Sepultura), criticava ferozmente o som e a postura do Holocausto, acusando-os de incoerência ideológica e sonoridade fraca. Holocausto, por sua vez, retrucava em entrevistas e demos underground. Os ataques públicos entre membros das duas bandas ajudaram a consolidar a fama belicosa da cena mineira da época.
Krisiun vs. Rebaelliun – O death metal virou guerra civil
Nos anos 90, duas bandas brasileiras de death metal extremo começaram a chamar atenção no exterior: Krisiun (RS) e Rebaelliun (PE/RS). A rivalidade começou nos bastidores de turnês internacionais, com acusações de sabotagem, cópias de estilo e conflitos de ego. Rebaelliun acusava Krisiun de monopolizar oportunidades e minar o crescimento de outras bandas. Krisiun, por sua vez, evitava falar do assunto, mas a tensão era evidente na cena. A rixa nunca foi publicamente resolvida, e fãs até hoje debatem quem reinou no death metal nacional.
Mukeka di Rato vs. Jason – Troca de farpas e split irônico
Essas duas bandas do hardcore nacional trocaram acusações e alfinetadas públicas ao longo dos anos 2000. Tudo começou com críticas ao posicionamento de cada uma, seja por postura política ou por comportamento de palco. A treta chegou ao ápice com o lançamento do split "Meus amigos estão certos, mas eu estou certo também", onde cada banda gravou músicas falando mal da outra — de forma debochada e criativa. Uma treta que virou arte e rendeu um dos splits mais divertidos (e ácidos) do underground nacional.
Planet Hemp vs. Raimundos – Briga no mainstream, raízes no underground
Embora ambas tenham ganhado projeção nacional nos anos 90, Planet Hemp e Raimundos vieram da base alternativa e se cruzaram antes da fama. A treta estourou de vez quando, segundo entrevistas da época, integrantes do Raimundos zombaram da legalização da maconha, tema central do Planet. Em resposta, Marcelo D2 e BNegão dispararam críticas diretas. Com o tempo, as farpas viraram indiretas em músicas e entrevistas. Uma disputa entre ideologias, egos e sons — e que escancarou como até no topo, as raízes do underground seguem pulsando (e tretando).
Dance of Days vs. Dead Fish – Emo e hardcore em rota de colisão
Dance of Days, referência do emocore paulista, e Dead Fish, ícone do hardcore capixaba, já foram símbolo da união da cena. Mas os bastidores contavam outra história: divergências de postura, acusações de estrelismo, disputas por espaço na mídia alternativa e estilos de vida incompatíveis acirraram os ânimos. Os vocais irônicos do Dance em certas faixas chegaram a ser lidos como indiretas. Embora nunca tenham declarado guerra aberta, os climões nos bastidores de festivais como o Hangar 110 eram notórios.
Gritando HC vs. o resto do underground paulista – Um caso à parte
O Gritando HC sempre foi uma banda de extremos: amada por uns, detestada por muitos. Durante anos 2000, eles foram acusados de postura arrogante e comportamento explosivo nos bastidores. Brigas com produtores, tretas com bandas de abertura e declarações polêmicas em entrevistas criaram um ambiente hostil em torno do grupo. A banda, por sua vez, abraçou a persona “odiada” e virou quase um anti-herói da cena. Mesmo com rixas, segue com público fiel — e com histórias pra encher um livro de tretas.
Zumbis do Espaço vs. Mundo Livre S/A – A treta inesperada
Um conflito inusitado explodiu quando Zumbis do Espaço, banda de horror punk paulista, criticou publicamente o “manguebeat gourmetizado” e disparou farpas contra nomes como Chico Science (pós-morte) e Fred Zero Quatro, líder do Mundo Livre. A resposta veio em forma de críticas veladas sobre o “fascismo disfarçado de horror”. Uma treta inesperada entre duas visões radicalmente diferentes de fazer música alternativa no Brasil.
Cólera vs. o movimento anarcopunk
Após anos sendo referência punk no Brasil, o Cólera, liderado por Redson, passou a ser alvo de críticas de anarcopunks mais radicais que o acusavam de estar “muito próximo do sistema”. A treta foi alimentada por conflitos em shows, intervenções em fanzines e até protestos em apresentações. Redson, sempre pacifista, respondia com argumentos em entrevistas, mas a divisão ficou marcada: parte da cena que ajudou a construir virou contra ele. Ainda assim, o Cólera se manteve firme até o fim da vida de seu vocalista.
Matanza vs. boa parte do cenário hardcore/punk
Matanza sempre foi uma banda polêmica no underground. Com letras debochadas e postura “anti-politicamente correta”, colecionou desafetos em várias vertentes do punk e hardcore. Acusações de machismo, elitismo e ironias mal interpretadas alimentaram a rejeição. A banda, por sua vez, nunca recuou: assumiu o papel de “persona non grata” e capitalizou em cima da imagem de vilões do underground. Um caso onde a rixa virou combustível para o sucesso.
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