Quando a Homenagem Azedou: Como uma Jam Dedicada a Eric Clapton Rompeu a Amizade com Eddie Van Halen

De ídolo absoluto a desafeto: entenda como um tributo de Eddie Van Halen a Clapton terminou em críticas duras, mágoas e o fim de uma amizade improvável entre dois gigantes da guitarra.

Redação - SOM DE FITA

7/31/2025

Quando o Van Halen estourou com seu disco homônimo em 1978, Eddie Van Halen não economizou ao revelar sua maior inspiração. Em sua primeira grande entrevista, para Jas Obrecht, da Guitar Player, Eddie deixou claro: “Eu diria que a principal (influência), acredite ou não, é Eric Clapton. Quero dizer, eu sei que não soo como ele.”

O guitarrista não só idolatrava Clapton como conhecia cada detalhe de seus solos: “Eu sei cada maldito solo que ele já tocou, nota por nota, até hoje. Eu costumava sentar e aprender aquelas coisas nota por nota (de ouvido). As gravações ao vivo, como ‘Spoonful’, ‘I’m So Glad’ ao vivo – todas essas coisas.” Para muitos, era emocionante ver um fenômeno do hard rock reverenciando um mestre do blues com tanto respeito.

Esse sentimento de admiração abriu caminho para que os dois se encontrassem algumas vezes e desenvolvessem uma amizade. Um jovem que havia crescido estudando cada acorde de Clapton agora estava diante de seu ídolo, e parecia que essa relação teria um futuro harmonioso. Mas a história tomaria um rumo inesperado.

Clapton reconhece o talento, mas mantém distância

Em 1985, já com a amizade estabelecida, Clapton comentou sobre Eddie em entrevista à mesma Guitar Player. O tom foi frio e calculado: “Se Eddie Van Halen gosta da maneira que eu toco, então assumidamente, ele deve gostar do que eu gosto. Mas se ele pode reconhecer tudo isso e ainda fazer o que ele faz, então temos que aceitar que ele está fazendo algo sobre o qual não temos muita clareza.”

Ele também fez um comentário ambíguo sobre a técnica de Eddie: “Ele é muito rápido e, aos meus ouvidos, por muito tempo ele meio que exagera. Mas isso é porque eu sou um guitarrista mais simples. Talvez eu tocasse assim se eu tivesse a técnica.”

A declaração soou respeitosa, mas sem entusiasmo. Era como se Clapton reconhecesse a genialidade de Eddie, mas ao mesmo tempo quisesse manter uma distância entre seu estilo clássico e o virtuosismo explosivo do guitarrista do Van Halen.

O tributo que virou motivo de ofensa

Dois anos antes dessa entrevista, Eddie havia feito um gesto que imaginava ser um tributo à altura. Em 1983, ele gravou com Brian May (Queen) o EP Star Fleet Project. No lado B, uma jam instrumental de quase 13 minutos chamada Blues Breaker foi dedicada a “EC” — as iniciais de Eric Clapton.

Seria um presente para o ídolo, mas o efeito foi justamente o contrário. Em 1986, em entrevista à revista Musician, Clapton revelou sua verdadeira reação ao ouvir a faixa: “Foi tão horrível, e eles dedicaram a mim. Eles me mandaram uma cópia e eu coloquei para tocar esperando alguma coisa e, sabe, eu quase fui insultado por eles terem me mandado isso. (…) Fiquei muito desapontado.”

O britânico foi além e criticou duramente a abordagem de Eddie e Brian: “Eles se revezaram tocando solos e só foram de cabeça nisso com tudo o que sabiam. E não havia dinâmica, não havia construção, não havia sensibilidade. (…) Se ele (Eddie Van Halen) quer tocar blues, ele tem que olhar para isso como um estilo. Tem regras. É como o teatro Kabuki japonês ou algo assim. Tem certas coisas que você faz e outras coisas que você não faz.”

Para Clapton, Eddie simplesmente não havia entendido a essência do blues. O que Eddie via como homenagem, Clapton interpretou como falta de sensibilidade ao estilo que ele tanto venerava.

Eddie responde com mágoa e ironia

Enquanto Brian May sempre tratou as críticas de Clapton com diplomacia, Eddie não escondeu sua irritação. Alguns anos depois, em um encontro casual em uma festa, os dois tentaram conversar sobre o assunto. Mas com Eddie embriagado e Clapton recém-sóbrio, o diálogo não passou de um choque de temperamentos.

Em 1995, Eddie voltou a falar do assunto em entrevista para a Guitar Player, agora em tom ácido: “Eu cresci ouvindo Clapton, mas – não me odeie, Eric! – é como se ele não fizesse mais aquilo. Agora quando ele sola, para mim soa fútil, como se fizesse à toa. (…) Ouça seus solos do início, todas as coisas do Cream, como ‘Sunshine of Your Love’. As coisas que ele fazia… ele falava enquanto tocava.”

Era o desabafo de quem viu seu maior ídolo criticar algo feito com admiração sincera. A frustração transformou a devoção de Eddie em um misto de decepção e desencanto.

O fim de uma amizade que nunca se recuperou

Ao que tudo indica, os dois nunca chegaram a fazer as pazes. A homenagem que deveria unir acabou separando, e o que era admiração virou ressentimento. Eddie Van Halen nos deixou em 2020, levando com ele a mágoa por um dos encontros mais conturbados entre gerações de guitarristas que a história da música já registrou.

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