
Os ÁLBUNS PSICODÉLICOS Mais Alucinantes do BRASIL
Uma viagem lisérgica pelo que há de mais ousado, raro e transformador na história da psicodelia brasileira
Redação - SOM DE FITA
8/8/2025




1. Paêbirú – Caminho da Montanha do Sol (Lula Côrtes & Zé Ramalho)
Lançado em 1975, esse disco é considerado uma das obras-primas da psicodelia brasileira. Gravado em Recife e lançado pela pequena gravadora Rozenblit, Paêbirú mistura cantos indígenas, poesia concreta, regionalismo nordestino, efeitos de estúdio e instrumentos exóticos em uma jornada musical dividida em quatro lados: Terra, Ar, Fogo e Água — representando os quatro elementos.
A música psicodélica no Brasil floresceu em um terreno fértil de experimentações sonoras, fervor político e misticismo tropical. Diferente de outras cenas internacionais, como o rock psicodélico britânico ou o acid rock americano, a psicodelia brasileira encontrou nas raízes regionais, nas tradições afro-indígenas e na contracultura uma estética própria, muitas vezes marginalizada ou censurada à sua época. Hoje, essas obras são não apenas cultuadas por colecionadores, mas reconhecidas como marcos revolucionários de nossa identidade sonora.
Nesta lista, mergulhamos nos discos mais alucinantes e simbólicos da psicodelia brasileira. De raridades em vinil a gravações cheias de lendas e capas que são verdadeiras obras de arte, esta seleção é um convite para quem busca se perder (e se encontrar) em outras dimensões sonoras.


A lenda mais famosa sobre o álbum envolve uma enchente que destruiu quase toda a prensagem original. Apenas cerca de 300 cópias sobreviveram, tornando o vinil um dos mais raros e cobiçados do mundo. Cada faixa é uma viagem mística com camadas de guitarra fuzz, flautas, violas e experimentações vocais que ultrapassam qualquer rótulo. Paêbirú é mais do que um álbum — é um artefato sonoro de outra era.
2. A Bolha – Um Passo à Frente (1973)
Com raízes no rock progressivo e psicodélico, a banda A Bolha surgiu no Rio de Janeiro no final dos anos 1960. Um Passo à Frente é o segundo disco do grupo, e representa sua fase mais ousada e viajante. O álbum é permeado por longos improvisos, letras existencialistas e climas densos que mesclam rock pesado, timbres espaciais e vocais reverberados.


A capa se define por sua estética minimalista e enigmática. Um fundo branco puro enfatiza um círculo centralizado em tons de cinza escuro e preto, no qual aparecem os rostos dos integrantes da banda, como se estivessem encapsulados dentro de uma bolha — uma metáfora visual direta ao nome do grupo. A posição e expressão dos rostos conferem uma atmosfera introspectiva e misteriosa.
3. Som Imaginário – Matança do Porco (1973)
O Som Imaginário foi uma das bandas mais inventivas da era pós-Tropicália, servindo de suporte para artistas como Milton Nascimento e Gal Costa. Mas em Matança do Porco, o grupo assina uma obra autoral ambiciosa, instrumental e fortemente influenciada por jazz fusion, música erudita e psicodelia progressiva.


Gravado no estúdio Eldorado, o disco se desdobra como uma trilha sonora para um filme que nunca existiu. As composições são carregadas de tensão, beleza e um certo delírio técnico e emocional. O título — impactante e enigmático — é acompanhado por uma capa igualmente provocadora. É um disco para escutar de fones, no escuro, permitindo-se atravessar seus múltiplos climas.
4. Mutantes – Tudo Foi Feito Pelo Sol (1974)
Após a saída de Rita Lee, Os Mutantes se reinventaram com uma nova formação e mergulharam de cabeça no rock progressivo e na psicodelia instrumental. Tudo Foi Feito Pelo Sol é o ápice dessa fase: um álbum solar, repleto de solos longos, letras filosóficas e arranjos épicos.


A influência do Yes e do Pink Floyd é perceptível, mas filtrada por um olhar brasileiro, com elementos de baião, modas de viola e timbres tropicais. A capa é uma das mais emblemáticas do rock nacional, com um Sol hipnotizante em um deserto vermelho. Embora tenha dividido a crítica na época, o disco ganhou status cult com o passar dos anos e é considerado uma das melhores produções do rock brasileiro dos anos 70.
5. Ave Sangria – Ave Sangria (1974)
A banda pernambucana Ave Sangria surgiu como uma das vozes mais fortes do movimento psicodélico do Nordeste. Seu disco homônimo é um estouro de criatividade e ousadia, com letras irreverentes, arranjos elaborados e um espírito transgressor que lhe rendeu censura imediata.


Gravado no Rio de Janeiro e lançado pela Continental, o álbum mistura elementos de folk, rock, psicodelia e regionalismo. O single “Seu Waldir” foi proibido pela ditadura poucos dias após o lançamento, acusada de “imoralidade”. A capa original também foi censurada e substituída por uma imagem sem ligação com o conteúdo do álbum. Décadas depois, o disco foi relançado com a capa original restaurada, e hoje é reconhecido como um dos maiores tesouros do rock psicodélico brasileiro.
O Fascínio das Capas e dos Bastidores
Além do conteúdo musical, esses álbuns também marcaram época pelas capas emblemáticas e histórias de bastidores que beiram o mítico. Muitas das capas foram feitas por artistas plásticos que, assim como os músicos, buscavam expandir a percepção visual. A estética psicodélica brasileira, ainda pouco estudada academicamente, é uma manifestação única que merece ser revisitada — e celebrada.
Os bastidores dessas gravações também são recheados de curiosidades: lendas de sessões com uso de substâncias alucinógenas, gravações feitas em uma única madrugada, aparições místicas e experiências transcendentes relatadas pelos próprios músicos.
Um Convite à Redescoberta
Em tempos de algoritmos e playlists genéricas, revisitar essas obras é um ato de resistência cultural e um deleite estético. Esses discos, mais do que registros fonográficos, são portais para outra forma de sentir e pensar a música — mais livre, profunda e conectada com o espírito experimental do Brasil dos anos 70.
Se você ainda não teve contato com essas pérolas da psicodelia nacional, agora é a hora. Coloque o vinil (ou dê o play no streaming), apague as luzes e permita-se embarcar nessa viagem sem volta.
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