
O Fim de Uma Era: Black Sabbath se Despede dos Palcos e Encerra o Capítulo Mais Sombrio e Inovador do Rock
Último show da banda que inventou o heavy metal marca o adeus definitivo a uma revolução musical nascida das sombras da Inglaterra industrial
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Redação - SOM DE FITA
7/7/2025




Na noite do ultimo sábado (05/07), o mundo testemunhou um marco definitivo na história da música: o último show da carreira do Black Sabbath. Após décadas moldando o som pesado e criando a base de um dos gêneros mais influentes do planeta, a banda britânica realizou sua despedida oficial dos palcos. Mas mais do que uma apresentação final, esse momento representou o encerramento de uma era que revolucionou o rock e transformou a cultura popular.
A importância desse show não está apenas na nostalgia — está no reconhecimento de que o Black Sabbath criou um gênero musical inteiro praticamente do zero. Nascido em um contexto hostil, envolto em polêmicas, censuras e perseguições religiosas, o grupo transformou seu ambiente sombrio em arte sonora com identidade própria.
Os Criadores do Som do Abismo
Antes do Black Sabbath, o rock era dominado por influências do blues, do folk e de sonoridades psicodélicas. Embora houvesse distorções e peso em bandas como Cream, The Who ou Led Zeppelin, nenhuma havia mergulhado tão fundo no sombrio como o Sabbath.
Em 1970, o disco “Black Sabbath” inaugurou algo inédito: guitarras propositalmente lentas e arrastadas, clima opressor, letras falando sobre bruxaria, guerra, morte, insanidade e forças sobrenaturais. A faixa de abertura do álbum já começa com sons de trovão, sinos e uma progressão harmônica dissonante, sugerindo um filme de terror sonoro. Era um aviso claro: o rock acabava de entrar em uma nova fase — mais densa, mais pesada, mais desafiadora.
Tony Iommi, guitarrista e principal arquiteto do som da banda, enfrentava uma limitação física severa: ele havia perdido as pontas de dois dedos da mão direita em um acidente em uma fábrica de metalurgia. Para continuar tocando, criou próteses rudimentares e passou a afinar as cordas da guitarra mais graves para reduzir a tensão. Sem saber, ele criou o que viria a ser a base do heavy metal: riffs graves, ameaçadores, únicos.
Rejeição, Censura e Tentativas de Silenciamento
Com o sucesso veio também o escândalo. A sonoridade sombria e as capas de discos que remetiam ao ocultismo despertaram a ira de grupos religiosos ao redor do mundo. Ainda que muitas letras abordassem temas como os perigos da guerra, a crítica à alienação religiosa e a busca por paz interior, o público conservador via no Sabbath um inimigo a ser combatido.
Nos Estados Unidos, vários grupos cristãos fundamentalistas promoveram protestos na porta de shows, chamando os membros da banda de “adoradores do demônio”. Muitos álbuns chegaram a ser banidos de rádios e lojas, principalmente no sul do país. Em entrevistas, os músicos contaram que receberam cartas com ameaças de morte e que uma vez tiveram que cancelar um show por medo de atentado promovido por uma seita religiosa armada.
Um dos episódios mais extremos ocorreu em Nashville (EUA), durante uma apresentação nos anos 1970. Segundo relatos do baixista Geezer Butler e confirmados pelo próprio Tony Iommi, um homem invadiu o palco com uma adaga na mão, com a intenção declarada de “sacrificar” o guitarrista. A segurança conteve o agressor antes do ataque, mas o impacto do evento foi profundo. Em entrevista ao site MusicRadar, Iommi declarou:
“A coisa mais perturbadora que já vivi foi quando alguém subiu ao palco com uma adaga para me esfaquear. Muito perturbador, para dizer o mínimo.”
O agressor havia pintado uma cruz ensanguentada em uma porta dos bastidores, e segundo relatos da equipe, agia por motivação religiosa, considerando a banda uma ameaça espiritual. Mesmo diante de situações tão perigosas, o Black Sabbath seguiu em frente — transformando rejeição em força criativa.
Uma Influência Incalculável
É praticamente impossível medir a verdadeira influência do Black Sabbath. A banda não apenas criou o heavy metal — ela inspirou dezenas de subgêneros: doom metal, stoner, sludge, death metal, black metal, grunge e até elementos do hip-hop e da música eletrônica absorveram fragmentos de seu estilo.
Artistas como Metallica, Slayer, Nirvana, Alice in Chains, Sepultura, Korn, Ghost e até nomes improváveis como Kanye West e Travis Scott já citaram o Sabbath como influência direta ou indireta em sua música. O impacto da banda ultrapassou as fronteiras do metal e infiltrou-se na cultura pop, na moda, no cinema e nos videogames.
Além disso, o grupo influenciou profundamente o comportamento e a identidade da juventude: mostrou que o rock não precisava ser solar e otimista, mas também poderia ser sombrio, introspectivo, existencial — e ainda assim revolucionário.
O Último Ritual
O show final não foi apenas uma reunião de clássicos — foi um ritual de passagem, um momento simbólico onde o peso da história se fez presente. O repertório incluiu faixas emblemáticas como Iron Man, War Pigs, N.I.B. e, claro, Paranoid. A apresentação foi carregada de emoção, com os membros demonstrando carinho mútuo e gratidão ao público que os acompanhou por mais de cinco décadas.
Realizado na cidade natal da banda, Birmingham, o local exato onde tudo começou, o último show fechou um ciclo de forma poética. Ozzy, aos 76 anos, agradeceu ao público com lágrimas nos olhos. Tony Iommi, o guerreiro das seis cordas, permaneceu firme mesmo enfrentando uma batalha contra o câncer. Geezer Butler, o poeta sombrio do baixo, também se despediu com dignidade e respeito, e ainda levou um bolo para Ozzy, no palco.
Foi mais do que uma despedida: foi um adeus digno de lendas.
Legado Imortal
Mesmo que o Black Sabbath nunca mais suba ao palco, seu legado está consolidado. Em cada riff pesado, em cada grito de rebeldia, há ecos do que eles criaram. O heavy metal de hoje — em todas as suas formas — existe por causa deles.
A importância da banda não está apenas em sua música, mas no que ela representou: a libertação do medo, a encarnação sonora da angústia, a coragem de ser diferente.
Este último show, encerra a trajetória de uma das maiores bandas da história. Mas o Sabbath nunca morre. Ele apenas se transforma — e continua vivendo nos porões do mundo, nos fones de ouvido dos jovens, nas paredes dos estúdios e nos corações dos que encontraram na escuridão a luz da resistência.
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