
O Brasil Psicodélico de Guilherme Arantes: Quando o Pop Encontrou o Progressivo
Antes dos sintetizadores ensolarados dos anos 80, Guilherme Arantes viajou fundo no rock progressivo com a banda Moto Perpétuo — e o resultado é um disco cult que segue instigando ouvidos curiosos
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Redação - SOM DE FITA
6/2/2025




Quem vê Guilherme Arantes como o arquiteto do pop radiofônico brasileiro talvez não imagine que, em 1974, ele era um tecladista cabeludo e ambicioso, disposto a quebrar barreiras sonoras ao lado da banda Moto Perpétuo. A proposta era ousada: fazer um rock progressivo sofisticado, com influências de Yes, Emerson Lake & Palmer e um pé firme na música erudita e na MPB. O resultado? Um disco homônimo que passou batido na época, mas hoje é considerado uma das pedras preciosas do rock nacional.
O disco que ninguém entendeu (naquele tempo)
Lançado pela gravadora Continental, Moto Perpétuo foi tudo menos convencional. Nada de refrões pegajosos ou estruturas de verso e coro. O álbum trouxe composições longas, mudanças de andamento, letras densas e uma obsessão por harmonias complexas. Era música para quem curtia mergulhar, e não para quem queria dançar.
Na época, o Brasil ainda respirava os ares sufocantes da ditadura militar, e o mercado fonográfico era dominado por baladas românticas e o que restava do movimento tropicalista. O progressivo, embora vibrante em alguns nichos, era praticamente um idioma estrangeiro.
“Fomos completamente ignorados pela mídia e pelas rádios. Ninguém entendia o que a gente queria fazer”, disse Arantes em entrevista anos depois.
Muito além do pop romântico
O curioso é que, logo após essa fase experimental, Guilherme Arantes fez uma guinada radical e virou queridinho das FMs com sucessos como Planeta Água, Cheia de Charme e Lance Legal. Mas escutando com atenção, é possível perceber que a escola progressiva nunca saiu de seu DNA. O uso criativo de timbres, os arranjos detalhados e o cuidado com a construção harmônica continuaram ali — apenas disfarçados sob o manto da música pop.
Aliás, dá pra dizer que Arantes foi um dos poucos que conseguiram traduzir a complexidade do progressivo para o formato acessível sem perder a elegância. E isso não é pouca coisa.
Redescoberta e legado cult
Décadas depois, o disco do Moto Perpétuo foi resgatado por colecionadores e fãs do rock obscuro brasileiro. Com o avanço da internet e a sede por redescobertas, o álbum finalmente começou a receber o reconhecimento que merecia. Hoje, está disponível em streaming e já foi até relançado em vinil em edições limitadas.
A influência também pode ser sentida em bandas brasileiras atuais que exploram o lado mais viajante da música, como Violeta de Outono, Stratus Luna e Papisa. A semente plantada em 74 germinou — mesmo que com décadas de delay.
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