
Nordeste Insubmisso: Como a Música Nordestina Influenciou o Brasil Mesmo Sendo Desdenhada
De Luiz Gonzaga a BaianaSystem, o som nordestino resistiu ao preconceito, moldou a cultura nacional e segue ditando tendências — mesmo ignorado por parte do próprio povo.
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Redação - SOM DE FITA
7/8/2025




A música nordestina é um dos pilares mais robustos da identidade sonora brasileira. Suas raízes fincadas no sertão, nos terreiros, nos batuques de rua e nos lamentos de vaqueiros ecoam em todo o território nacional há décadas. Ainda assim, por muito tempo — e até hoje — parte da população brasileira, inclusive nordestinos, desdenha de seus próprios gêneros e ícones, taxando-os como ultrapassados ou “inferiores” frente aos estilos do eixo Sudeste. Paradoxalmente, são justamente essas sonoridades que mais influenciaram o pop, o rock, o rap, a MPB e até a música eletrônica nacional.
A seguir, analisamos como a música nordestina moldou a produção cultural brasileira, enfrentou estigmas e ainda mantém sua força criativa, mesmo sendo historicamente marginalizada por parte da mídia e do público.
O Preconceito Musical: Colonialismo Cultural Disfarçado
O desdém pela música nordestina não é acidental. Ele faz parte de uma lógica histórica de centralização cultural em grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro. Muitos artistas nordestinos foram obrigados a migrar para essas cidades para ganhar notoriedade — caso de Luiz Gonzaga, Elba Ramalho, Dominguinhos e Fagner.
O preconceito se manifesta em diversas camadas: desde a exclusão das programações de rádios e festivais até o estigma de que ritmos como forró, xote, baião e repente seriam “música de pobre” ou “cafona”. Esse olhar elitista apagou por anos a importância estética e a sofisticação harmônica e poética desses gêneros.
Influência Silenciosa: Quando o Brasil Copiou o Nordeste sem Admitir
Mesmo enfrentando rejeição, a música nordestina sempre foi copiada — e muitas vezes sem o devido crédito. A Tropicália, por exemplo, bebeu diretamente do baião e do xaxado, com Caetano Veloso e Gilberto Gil declaradamente influenciados por Luiz Gonzaga. O movimento manguebeat, liderado por Chico Science nos anos 90, mostrou que o maracatu, o coco e o repente poderiam dialogar com rock, hip hop e música eletrônica.
Mais recentemente, artistas como BaianaSystem, Karol Conká e Criolo incorporaram timbres e ritmos nordestinos em seus trabalhos, ampliando ainda mais a abrangência da estética regional. A influência se expandiu até para o pop — é o caso de Pabllo Vittar, que se apropria de ritmos como o brega e o tecnomelody em nível nacional e internacional.
O Nordeste é o Novo Mainstream — Mesmo Sem os Holofotes
Enquanto artistas de outras regiões se apropriam da estética nordestina com glamour, muitos músicos nordestinos continuam marginalizados. A “nova MPB” exalta artistas como Duda Beat, que traz influências de brega e axé, mas muitas vezes não reconhece os precursores desses gêneros.
Apesar disso, o Nordeste segue pulsante. Festivais como o Rec-Beat (PE), Festival DoSol (RN) e o FALA! (MA) têm promovido a diversidade musical local, revelando nomes como Teto Preto, Mateus Fazeno Rock, Bia Ferreira, Mestrinho, Don L e tantos outros que representam a multiplicidade sonora nordestina hoje.
Resistência Nordestina: Um Ato Político e Cultural
A sobrevivência e a reinvenção da música nordestina é, em si, um ato de resistência. Em um país marcado pela desigualdade social e regional, manter vivas expressões como o repente, o maracatu, o forró pé-de-serra, o samba de roda e o axé é reafirmar a existência de uma cultura que recusa ser apagada.
A música do Nordeste nunca precisou da validação da indústria do entretenimento para ser relevante. Ela ecoa em feiras, festas populares, rodas de coco, micaretas e paredões. E mais: ela se reinventa, se hibridiza e desafia rótulos, mostrando que sua potência é incontrolável — mesmo para quem finge ignorá-la.
Conclusão: A Força de Quem Nunca Teve Medo de Ser Quem É
A história da música nordestina é uma história de resistência, criatividade e universalidade. Mesmo diante do descaso de parte da população — inclusive de muitos que são filhos dessa mesma terra —, ela segue moldando o presente e o futuro da música brasileira.
Desdenhar do forró, do brega, do maracatu ou do axé é ignorar que, sem o Nordeste, não há Brasil que cante ou dance com autenticidade. E no fim das contas, enquanto o preconceito faz barulho, o som do Nordeste continua a tocar — do sertão ao streaming — como uma batida que nunca silencia.
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