MÚSICA, LUCRO E ARMAS: o Debate Ético que o SPOTIFY Não Pode Ignorar
Mesmo que a empresa negue envolvimento direto, os investimentos pessoais de seu CEO em tecnologia militar levantam um dilema que não se pode silenciar.
Redação - SOM DE FITA
9/26/2025






O Spotify é hoje a maior plataforma de streaming de música do mundo, com dezenas de milhões de assinantes e uma presença quase onipresente no cotidiano de artistas e ouvintes. Por isso, quando vieram à tona os investimentos pessoais de Daniel Ek, cofundador e atual CEO, em uma empresa europeia de defesa chamada Helsing, a repercussão foi imediata.
A situação ganhou corpo porque não se trata de uma aplicação simbólica. Ek liderou, através de sua firma de investimentos Prima Materia, uma rodada bilionária de recursos para financiar tecnologias militares baseadas em inteligência artificial, drones e softwares de análise de batalhas. A Helsing já declarou ter fornecido equipamentos à Ucrânia e segue desenvolvendo sistemas voltados a operações militares.
A defesa oficial do Spotify é que a empresa não tem envolvimento direto com esse tipo de investimento, lembrando que o CEO tem liberdade para gerir seus ativos pessoais. No entanto, esse argumento deixa de lado um ponto essencial: a fortuna de Ek é fruto direto do Spotify. Em outras palavras, mesmo que o dinheiro não saia formalmente do caixa da companhia, ele existe porque a plataforma gera lucros, movimenta assinaturas e se sustenta no trabalho de milhares de artistas que disponibilizam sua música no serviço.
O elo indireto entre artistas, público e indústria bélica
É justamente aí que surge o dilema ético. Bandas como o Massive Attack já se manifestaram e retiraram seus catálogos do Spotify em protesto, alegando não querer que suas obras sirvam como combustível para um sistema que, no fim das contas, permite que o CEO aplique recursos em uma indústria de guerra.
Para os artistas, essa relação é mais do que simbólica. Cada reprodução gera frações de centavos que, somadas, alimentam o faturamento da plataforma. Esse faturamento, por sua vez, fortalece a posição de Daniel Ek como um dos executivos mais ricos do setor, permitindo que ele amplie sua atuação como investidor global. Ainda que a defesa corporativa diga que “Spotify e Helsing são entidades separadas”, a verdade é que os recursos não surgem do nada: eles têm origem no consumo cultural.
Para o público, essa ligação indireta traz uma sensação de impotência. O ouvinte médio pode pensar: ao pagar a assinatura mensal, estaria ajudando a manter a engrenagem que permite tais investimentos? Embora não se trate de um financiamento direto, o debate mostra como o consumo cultural nunca é neutro.
O posicionamento do Som de Fita
Diante dessa controvérsia, o Som de Fita considera importante assumir um posicionamento claro. Reconhecemos que é incorreto simplificar a questão com afirmações do tipo “o Spotify financia armas”. Tal frase, sem contexto, pode ser entendida como fake news e distorce a realidade dos fatos.
No entanto, também é preciso afirmar sem rodeios que há uma ligação entre o sucesso da plataforma e o poder de investimento de seu CEO em setores militares. Não há como ignorar que o capital movimentado pela assinatura de milhões de usuários, pela monetização da música e pela presença global da empresa é o que sustenta a fortuna de Ek. Logo, é impossível dissociar completamente a imagem do Spotify dessa polêmica.
Por esse motivo, o Som de Fita deixa claro que não apoia esse possível financiamento indireto da indústria bélica. Acreditamos que a música deve ser espaço de criação, liberdade e transformação social, não um elo em cadeias que alimentam conflitos armados. Também acreditamos que é papel do público questionar, refletir e exigir maior transparência das grandes plataformas que dominam a cultura digital.
Conclusão: consciência crítica sem fake news
O editorial do Som de Fita não busca inflamar boicotes nem espalhar desinformação. Nosso compromisso é com a reflexão crítica. O Spotify, oficialmente, não é uma empresa de defesa. Mas seu CEO usa a fortuna obtida graças à plataforma para investir em uma empresa que fabrica tecnologias de guerra. Esse é um dado público, noticiado em diversos veículos, e que não pode ser relativizado.
Cabe agora aos artistas e ouvintes decidirem como lidar com essa informação. Se optar por continuar na plataforma, que seja de maneira consciente. Se decidir sair, que seja também como gesto político. O que não podemos é fingir que não há uma conexão, ainda que indireta, entre música e armas.
O Som de Fita reforça, assim, sua posição: não apoiamos o uso dos lucros da cultura para alimentar indústrias que servem à guerra. Ao mesmo tempo, alertamos nossos leitores para não embarcar em frases simplistas ou falsas. A luta contra a desinformação é tão urgente quanto a luta por uma cultura ética e transparente.
Daniel Ek | Foto: Vesa Moilanen/REX/Shutterstock
LEIA TAMBÉM:
Notícias, resenhas e cultura underground em destaque.
© 2025. Todos os direitos reservados.
Música, atitude e resistência em alta rotação.
Rebobinando o furdunço, Dando o play no Fuzuê.
Siga a gente nas redes sociais

