O falecimento de Ozzy Osbourne, ocorrido em julho aos 76 anos, continua repercutindo entre músicos de diferentes gerações. Em nova entrevista, Max Cavalera, ex-vocalista do Sepultura e atual líder do Soulfly, compartilhou lembranças e reflexões sobre a convivência com o lendário vocalista do Black Sabbath.

Para Cavalera, Ozzy não foi apenas uma influência artística, mas também uma presença decisiva em momentos importantes de sua vida. Entre histórias de bastidores, conselhos e gestos de solidariedade, o brasileiro reforçou o quanto a memória do “Príncipe das Trevas” permanecerá viva no imaginário da música pesada.

Reação à morte de Ozzy e lembranças de turnês

Em conversa com John The Metal Mailman, Max Cavalera revelou o impacto da notícia da morte de Ozzy. “Acho que metade de mim ficou triste, mas a outra metade pensou: ‘Cara, esse cara teve de tudo. Ele viveu uma vida completa’. Se você quer falar de alguém que viveu uma vida completa, esse é o Ozzy. Você não poderia planejar uma forma melhor de partir. É louco. Você fez seu último show [apenas duas semanas antes], e pronto. Incrível”, disse.

Max recordou ainda as vezes em que pôde estar ao lado do cantor. “Tive a honra de estar com ele várias vezes, e foi muito legal. Vou guardar essa memória no coração para sempre. Foi um dos meus momentos favoritos na vida, apenas estar com ele e conversar”, afirmou.

Segundo o brasileiro, o apoio de Ozzy foi essencial para a criação de sua banda após a saída do Sepultura: “Mesmo no começo do Soulfly, ele meio que me ajudou a tornar isso realidade, dizendo: ‘Foda-se. Vai em frente. Crie sua nova banda. Corra atrás do seu sonho’. Se você tivesse dito a um jovem Max Cavalera, adolescente no Brasil, ‘Sim, o Ozzy vai te ajudar a montar uma nova banda’, eu teria dito: ‘Vai se ferrar. Você está louco’”.

O impacto da convivência e a generosidade do casal Osbourne

Max também destacou episódios de generosidade de Ozzy e Sharon. “Nós estávamos tocando em Donington [Monsters of Rock] com [Ozzy] e [Ozzy e Sharon] nos levaram para casa em seu jato particular quando Dana morreu”, relembrou, referindo-se ao falecimento de seu enteado, em 1996. “Foi horrível. Estávamos voltando para casa porque o filho da Gloria [esposa e empresária de Max] tinha morrido, no avião de Ozzy. Foi terrível. O tempo todo. Queria dizer algo para a Gloria e as palavras não saíam. Sharon falou sobre sentir que precisávamos de um amigo naquele momento e conseguiu nos ajudar. Eles não precisavam fazer nada. Apenas estavam tocando conosco e, ainda assim, mostraram quem realmente eram. Alguém poderia simplesmente ter dito: ‘Sinto muito pela sua perda’, mas eles não fizeram isso. Colocaram-nos em seu avião, nos deram dinheiro e deram uma cruz para Gloria. Foi incrível.”

Cavalera também lembrou da época em que foi expulso do Sepultura e recebeu apoio de Ozzy: “Fui convidado para a casa deles para jantar porque o Ozzy queria me incentivar a continuar. Ele disse: ‘Foda-se eles. Foda-se esses caras. Você precisa levantar a bunda e fazer alguma coisa’. Foi incrível ouvir isso dele, e eu precisava ouvir. Ele me mostrou algumas demos do Black Sabbath e aquilo explodiu minha mente. Foi incrível”.

Ozzy como lenda e homem comum

Além das grandes histórias, Max ressaltou o lado simples e humano do vocalista. “Acho que sim”, respondeu, ao ser perguntado se Ozzy poderia ser visto como uma pessoa comum. “Nós [costumávamos] passar tempo nos bastidores e coisas assim. Houve uma vez em que estávamos na Suécia, e ele me perguntou: ‘Onde estamos?’ Ele não tinha ideia de onde estava. Eu adorei isso nele. Era como: isso é tão legal. Esse cara é tão rock and roll. Ele simplesmente vai. Ele nem sabe em que país está.”

Max também citou as lembranças das turnês conjuntas, como o histórico show no Hyde Park, em Londres. “Foi Black Sabbath, Motörhead, Soundgarden, Faith No More e Soulfly. E eu fiquei pensando: metade dessas bandas já não está mais aqui. É louco.”

Em homenagem a Ozzy, Cavalera chegou a gravar um vídeo caseiro em sua conta no Instagram: “Peguei meu iPad, sentei embaixo de uma árvore e fiz algo para ele. Achei que, para mim, essa era a melhor forma de falar do coração. Ninguém me filmando, ninguém segurando a câmera. Apenas eu com meu iPad, apertei ‘play’ sozinho. E é como se eu estivesse falando diretamente com ele. Foi o mais sincero possível.”

Ao final da entrevista, Max resumiu: “Mas, sim, [Ozzy] será lembrado para sempre. Foi um dos grandes, com certeza.”

O adeus a uma lenda

De acordo com o atestado de óbito, Ozzy Osbourne morreu em 22 de julho devido a um ataque cardíaco. O documento também mencionou que o cantor sofria de doença arterial coronária e Parkinson.

O funeral aconteceu em 31 de julho, em Buckinghamshire, Inglaterra, nos 100 hectares da propriedade comprada pelo cantor e sua esposa em 1993. Apenas 110 familiares e amigos próximos participaram da cerimônia, que manteve a tradição de discrição da família Osbourne.

Mesmo após sua partida, Ozzy segue presente na memória dos fãs e colegas de profissão, que reconhecem sua trajetória como uma das mais impactantes da história da música. A fala de Max Cavalera resume o sentimento coletivo: um artista que viveu intensamente, inspirou gerações e jamais será esquecido.

Confira a entrevista abaixo:

Encontro de Ozzy com Max em 96. (Reprodução da Internet)

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