MARTY FRIEDMAN explica ruptura com o MEGADETH e detalha por que o Japão salvou sua carreira

Guitarrista relembra desgaste com a banda, recomeço do zero em Tóquio e o caminho até se tornar figura da cultura pop japonesa

Redação - SOM DE FITA

12/4/2025

A história recente de Marty Friedman é uma das mais curiosas da música pesada: um guitarrista de alcance mundial, peça-chave em uma das maiores bandas de thrash metal da história, decide abandonar tudo e se mudar para um país onde quase ninguém o conhece fora dos círculos do metal. O resultado? Um renascimento artístico que o transformou em um nome estável da música e da televisão japonesa.
Na nova entrevista concedida ao programa “Life In Six Strings”, de Kylie Olsson, Marty revisitou sua saída do Megadeth, o choque cultural ao recomeçar a carreira no Japão e o processo de reconstrução que o levou a conquistar públicos completamente diferentes.

A decisão de deixar o Megadeth e seguir outro rumo

Questionado por Kylie Olsson sobre o momento em que decidiu que era hora de sair do Megadeth, Marty Friedman foi direto e transparente. Não houve drama, mas um esgotamento mútuo.
Segundo ele:

“Quando deixei o Megadeth, eu sabia que era hora de sair. Eu não tinha mais nada a oferecer para a banda, e eles não tinham mais nada para mim. Era um bom momento para isso acontecer.”

A saída ocorreu oficialmente em 2000, após mais de uma década na banda e participações em alguns dos álbuns mais marcantes do grupo liderado por Dave Mustaine. Mesmo assim, Friedman afirma que já vinha planejando novos caminhos. A vontade de explorar outras sonoridades — especialmente a música japonesa — foi crescendo ao longo dos anos, até se tornar inevitável.

Durante o período final no Megadeth, Marty já mergulhava cada vez mais em J-Pop e artistas japoneses contemporâneos, algo que ele descreve como ingrediente essencial para sua mudança posterior. O guitarrista chegou a brincar que, no Arizona, onde morava na época, “viver fora das turnês era como viver no deserto literal e musical”.

Ele explica:

“Eu vivia no Arizona. É o lugar relaxado, onde nada muda. Quando você volta de turnê, é ótimo. Mas quando está só vivendo lá, é como viver no deserto. Então você começa a pensar: ‘que tipo de música eu realmente quero fazer?’ Eu estava ouvindo J-Pop 24 horas por dia.”

A partir daí, a ideia foi tomando forma. Ele percebeu que, se realmente queria mergulhar na música japonesa, precisaria estar fisicamente lá.

No fim de sua passagem pelo Megadeth, Marty Friedman já se aprofundava no J-Pop e na cena japonesa contemporânea, influência decisiva para sua guinada artística — Foto: Reprodução

A mudança para o Japão e o choque de começar do zero

Marty finalmente se mudou para o Japão em 2003. E apesar de já conhecer o país após anos de turnês com Cacophony e Megadeth, desembarcar sozinho foi outra realidade. Ele relembra que, como artista internacional, tudo sempre era resolvido pela equipe local — transporte, estúdio, hotel, agendas, tradutores. Mas sem o escudo do status internacional, a vida ficou muito mais crua.

Ele conta:

“Quando você vem como artista internacional, tudo é cuidado para você. Mas quando voltei sozinho, claro que não havia nada disso. E eu não queria estar na cena internacional; eu queria estar na cena doméstica japonesa.”

Essa escolha complicou ainda mais o início. Friedman explica que a música doméstica japonesa funciona em um universo totalmente próprio — outros produtores, outras gravadoras, outra rede de contatos — e que lá o fato de ele ter sido guitarrista do Megadeth simplesmente não significava nada.

Nas palavras dele:

“Mesmo tendo álbuns de platina com o Megadeth por 10 anos, os fãs de música doméstica japonesa, na maioria das vezes, nem conhecem as maiores bandas americanas. Eu queria estar nesse mundo, e foi contato por contato, uma pessoa de cada vez.”

O primeiro grande passo dentro do mercado japonês veio quando começou a trabalhar com a cantora Aikawa Nanase, de quem já era fã antes mesmo de se mudar. Ele ouvia a artista no Arizona e durante turnês no ocidente, e encontrar-se dentro de sua banda foi, segundo ele, um momento decisivo.

Esse trabalho abriu portas, consolidou seu nome no mercado local e deu início a uma fase criativa que redefiniu completamente sua carreira.

Da reinvenção artística ao status de celebridade no Japão

Desde que se estabeleceu em Tóquio, Marty Friedman se transformou em um caso raro de reinvenção completa. Além de se tornar figura reconhecida e respeitada no mundo da música japonesa, seu trabalho extrapolou fronteiras. Ao longo dos anos, ele:

— emplacou diversos álbuns no top 10 japonês;
— se apresentou em arenas como Budokan e Tokyo Dome;
— participou de mais de 700 programas de televisão;
— atuou em filmes, comerciais e campanhas de grandes marcas;
— se tornou um rosto conhecido até mesmo para pessoas que nunca ouviram metal.

O reconhecimento institucional também veio. Em 2016, o governo japonês o nomeou oficialmente “Embaixador do Patrimônio Japonês”, um título raro para um estrangeiro.

Além disso, sua autobiografia “Dreaming Japanese”, lançada recentemente, debutou em primeiro lugar na categoria de livros de heavy metal da Amazon e recebeu elogios de veículos como Rolling Stone, Guitar World e Decibel. O livro conta desde seu período com Jason Becker no Cacophony e os anos cruciais com o Megadeth até sua transformação em um personagem da cultura pop japonesa.

Mesmo com toda essa trajetória, Friedman reforça que nada disso teria acontecido sem a ruptura inicial — a decisão de deixar o Megadeth e admitir que o ciclo havia se esgotado.

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