MARTY FRIEDMAN diz que ainda “paga seus pecados” na música todos os dias
Guitarrista fala sobre persistência, frustrações e carreira multifacetada entre EUA e Japão
Redação - SOM DE FITA
11/28/2025




A trajetória de Marty Friedman parece, à primeira vista, o clássico caminho de um guitarrista que alcançou tudo: discos históricos, turnês mundiais, carreira solo prolífica e status de ícone no Japão. Mas, segundo o próprio músico, a realidade está longe de ser tão linear. Em uma nova entrevista ao canal Rad Jet, o ex-guitarrista do Megadeth explicou por que acredita que o ato de “pagar seus pecados” — expressão comum no meio musical para descrever trabalho árduo, frustração e resiliência — nunca chega ao fim.
O comentário reacende discussões sobre o que realmente significa se manter relevante na música, especialmente para artistas com décadas de estrada. E, no caso de Friedman, essa relevância vem acompanhada de disciplina, autocrítica e uma busca constante por novas linguagens.
O peso do trabalho contínuo e o mito do “já consegui”
Durante a entrevista, Marty Friedman foi direto ao explicar que, mesmo após alcançar reconhecimento internacional, a sensação de esforço permanente não diminuiu. Questionado se ainda sente que está “pagando seus pecados”, ele respondeu sem hesitar: “Todo santo dia. E isso pode estar em letras maiúsculas. Simplesmente nunca, nunca acaba de verdade.”
O guitarrista afirmou que não se trata de reclamar, mas de reconhecer um processo que muitos jovens músicos tendem a ignorar: a ilusão de que lançar um disco ou entrar em uma banda grande é o final da jornada. Na visão dele, é justamente o contrário — é aí que o ciclo se intensifica.
Ele explica:
“Para manter as coisas, continuar fazendo coisas novas e continuar criando coisas excitantes e influentes, você está constantemente pagando seus pecados e abrindo mão de coisas que seriam mais divertidas. Isso nunca muda. É constante.”
Friedman acrescentou ainda que o caminho é marcado por frustrações inevitáveis:
“Sempre pagando os pecados, sempre sendo decepcionado — decepcionado, mas não com tudo. Mas toda vez que algo ótimo acontece, só acontece porque você foi decepcionado antes.”
A reflexão aponta para a relação entre expectativas e realidade artística: sucessos são construídos sobre uma base de tentativas frustradas, riscos e insistência. Para ele, esse ciclo contínuo não deve surpreender ninguém, pois faz parte da lógica de evolução criativa.
Da revolução técnica no metal ao mergulho cultural no Japão
Antes de se tornar uma figura emblemática da TV japonesa, Marty Friedman ajudou a moldar o metal moderno. Ao lado de Jason Becker na banda Cacophony, redefiniu o virtuosismo da guitarra no fim dos anos 1980. Pouco depois, sua entrada no Megadeth marcaria um dos capítulos mais celebrados do thrash metal.



Marty Friedman e Kiko Loureiro de mãos dadas no palco após recriarem o clássico momento de “Tornado of Souls”, em cena que levou o público ao delírio — Foto: Divulgação

A fase com Dave Mustaine rendeu discos essenciais e consolidou a marca registrada do músico: improvisações imprevisíveis e uma fusão de escalas orientais e ocidentais que influenciaria gerações. Sua saída do Megadeth, em 2000, ocorreu por divergências criativas — e serviu como ponto de virada.
Após anos de viagens ao Japão desde os tempos de Cacophony, Friedman se mudou definitivamente para Tóquio. Lá, expandiu sua identidade artística e investiu em projetos que iam muito além da guitarra.
Nesse período, ele:
abraçou influências da música japonesa, do pop ao tradicional;
se tornou um dos artistas estrangeiros mais conhecidos na mídia do país;
tocou nos maiores palcos japoneses, incluindo o Tokyo Dome e o Budokan;
conquistou diversos Top 10 nas paradas locais;
participou de mais de 700 programas de TV, atuou em quatro filmes, fez campanhas publicitárias e se consolidou como figura cultural.
O reconhecimento culminou, em 4 de novembro de 2016, com o título oficial de “Embaixador do Patrimônio Japonês”, concedido pelo governo do Japão — algo raríssimo para artistas ocidentais.
Mesmo com toda essa presença midiática, Friedman nunca abandonou a música. “Drama”, seu álbum mais recente, foi lançado em 2024 e soma-se aos 15 discos solo que formam uma das carreiras mais diversas da guitarra moderna.
Uma autobiografia que conecta metal, migração e reinvenção
Em dezembro passado, Marty Friedman lançou sua autobiografia, Dreaming Japanese, escrita em parceria com o jornalista Jon Wiederhorn — autor de livros como Louder Than Hell. A obra estreou em 1º lugar na categoria “Heavy Metal Books” da Amazon e recebeu elogios de veículos como Rolling Stone, Guitar World e Decibel.
O livro narra sua jornada desde o auge no Megadeth até sua transição para uma vida completamente nova no Japão, onde deixou de ser apenas um guitarrista virtuoso para se tornar uma figura de influência na cultura pop do país.
A obra relata sua adaptação, sua relação com a língua japonesa — que estudava desde os anos 1980 — e sua convivência com um sistema cultural totalmente diferente. Friedman descreve sua chegada ao Japão como a construção de uma nova identidade, feita de escolhas calculadas, oportunidades inesperadas e, como ele reforça na entrevista recente, muito trabalho.
Para muitos fãs, o livro é também um mapa para entender por que Friedman, diferente de tantos ícones do metal, optou por se reinventar em vez de tentar repetir fórmulas do passado.
É um testemunho do que ele descreve como “superar adversidades” — algo que ele resume assim:
“Coisas ruins pavimentam o caminho para coisas boas, e é muito viril conseguir superar essas coisas. Tenho tido sorte e não tive muitas fases de azar, mas nada veio fácil.”


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