L7NNON e SANT selam a paz em novo single e deixam treta no passado

Rappers cariocas lançam “É preciso coragem”, faixa que fecha um ciclo de rivalidade e abre espaço para colaboração

Redação - SOM DE FITA

11/21/2025

A cena do hip hop brasileiro volta e meia testemunha tensões, disputas e narrativas que se alimentam do próprio ecossistema das redes sociais. Em 2023, L7nnon e Sant acabaram entrando nesse turbilhão após uma troca de farpas que se desdobrou em boatos, especulações e muita conversa nos bastidores. Agora, dois anos depois, a dupla dá uma guinada surpreendente: se unem em uma faixa colaborativa que, além de marcar a reconciliação, provoca reflexões sobre competição, união e a capacidade de virar a própria narrativa.
“É preciso coragem”, single lançado na noite de 18 de novembro, chega como um retrato desse momento. E mais do que isso: funciona como uma peça que reorganiza as conversas em torno dos dois artistas cariocas, mostrando que, para além das tretas, existe um movimento de maturidade criativa e uma tentativa real de costurar pontes no próprio cenário.

O trabalho traz L7nnon e Sant lado a lado em uma faixa construída em colaboração com o DJ e beatmaker LeodoKick e lançada pela HHR Records. O single veio acompanhado de um clipe dirigido por Rodrigo Siqueira, reforçando a estética mais introspectiva e espiritualizada que marca a sonoridade da música. Com uma mistura de coro sacro, clima etéreo e barras afiadas, a faixa coloca um ponto final — ou, pelo menos, um ponto de respiração — no capítulo que começou nas redes há quase dois anos.

Como a treta começou — e por que ela virou assunto maior que a música

A rivalidade entre L7nnon e Sant não nasceu no estúdio, mas sim no ambiente hiperexposto das redes sociais. Em 16 de março de 2023, uma discussão pública entre os dois acabou ganhando proporções inesperadas. O episódio foi rapidamente interpretado como uma rixa entre artistas da mesma cidade, alimentando especulações e narrativas nos bastidores do hip hop.

Esse tipo de tensão não é exatamente incomum no rap, onde disputas verbais e trocas de indiretas sempre fizeram parte da estética do gênero. No entanto, a cena digital amplifica tudo em velocidade máxima. A repercussão foi tamanha que a suposta rivalidade se tornou um tema recorrente entre fãs, veículos especializados e até artistas próximos de ambos.

O próprio L7nnon trata do assunto de forma direta logo no início da faixa colaborativa. Com ironia crítica, ele dispara: “Treta vende mais do que essa música”, admitindo que o público muitas vezes dá mais atenção ao conflito do que à criação artística em si. Esse verso resume bem a dinâmica que se formou ao longo de 2023: um conflito que, embora não fosse central, ocupou mais espaço do que deveria.

A colaboração atual, portanto, não é somente um gesto musical. É também uma resposta estratégica — um modo de reorganizar o foco e reposicionar as conversas em torno do trabalho, não da treta.

O encontro no estúdio e o nascimento de “É preciso coragem”

A faixa começa com um coro de clima quase sacro, seguido por uma atmosfera que mistura espiritualidade e leveza sombria. A produção de LeodoKick cria esse ambiente flutuante que dá espaço para que os dois rappers dialoguem, tanto nas barras quanto nos subtextos.

A música traz versos confessionais, diretos e sem firulas. L7nnon retorna com força logo no início, alternando vulnerabilidade e crítica. Em um dos versos de maior impacto, ele afirma: “Doença vale mais do que o remédio”, apontando novamente para o fato de que, na lógica das redes, o conflito rende mais engajamento do que o próprio processo de reparação.

Capa do single 'É preciso coragem', de L7nnon e Sant — Foto: Divulgação

Na segunda metade, o protagonismo passa para Sant, que assume o controle com seu flow mais acelerado e preciso. Ele reforça a perspectiva espiritualizada da canção ao afirmar: “Deus é o real MC, somos intermediários”, uma declaração que costura o tema do single e adiciona camadas de significado ao encontro entre os dois.

O resultado é uma faixa que, sem exigir grandiosidade, funciona como registro de um momento específico: o de virar a página sem precisar fingir que a tensão nunca existiu.

Da rixa à colaboração: o que isso significa para a cena do rap carioca

“É preciso coragem” chega em um momento curioso para ambos os artistas. L7nnon — que em 2025 também ganhou projeção como ator ao interpretar o ex-presidiário Ryan na novela Dona de Mim — vive um período de expansão artística. Sant, consolidado como uma das vozes fortes do underground carioca, segue aprofundando seu estilo e construindo uma base sólida de ouvintes.

A colaboração entre eles não resolve todos os debates, mas sinaliza algo importante: a capacidade da cena de transformar conflito em construção. Embora as disputas façam parte da história do rap, os movimentos de reconciliação também são fundamentais. Eles ajudam a equilibrar um ambiente que muitas vezes se vê dividido entre competitividade e união.

Além disso, o single coloca em evidência a maturidade profissional dos dois rappers. Em vez de seguirem alimentando um conflito que já havia perdido sentido, optaram por criar algo novo — e, ao mesmo tempo, simbólico. A faixa funciona como uma resposta direta às expectativas externas, mas também como uma demonstração de que ambos têm mais a ganhar criando juntos do que competindo pela mesma atenção.

O clipe dirigido por Rodrigo Siqueira reforça essa narrativa. Com estética mais limpa e atmosfera contemplativa, ele coloca os rappers em um cenário que dialoga com a ideia de reconciliação — longe de exageros visuais ou dramatizações desnecessárias.

Um single sobre música, escolhas e maturidade

“É preciso coragem” não é apenas uma faixa colaborativa: é um gesto. Um registro de que é possível reorganizar narrativas, mesmo quando o público já cristalizou suas próprias expectativas. L7nnon e Sant, antes colocados como antagonistas, agora dividem o mesmo espaço musical, mostrando que o hip hop continua sendo um território fértil para encontros, amadurecimentos e reviravoltas.

A música carrega frases diretas, reflexões espirituais e um clima que mistura sacralidade e sombra, sem soar pretensiosa. Não resolve todos os problemas da cena — e tampouco precisa. Seu papel é mais simples e eficaz: fechar um ciclo e abrir outro.

No fim das contas, talvez a própria linha de abertura seja a síntese desse momento: “Treta vende mais do que essa música”. Pode até ser verdade nas redes, mas, artisticamente, a faixa mostra o contrário. Às vezes, o que realmente permanece é justamente aquilo que nasce depois da poeira baixar.

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