JUSTIN CHANCELLOR confirma que o TOOL trabalha em novas músicas “há anos, entre idas e vindas”
Baixista comenta pressão do público, rotina criativa lenta e a ideia de que arte não deveria seguir cronômetro
Redação - SOM DE FITA
11/28/2025




A banda Tool sempre conviveu com a expectativa de lançamentos demorados, relações complexas com cronogramas e um público acostumado a longos intervalos entre os discos. E, apesar do histórico, a pergunta sobre “quando vem o próximo álbum?” continua aparecendo em praticamente todas as entrevistas. Em conversa recente com o jornalista Andrew McMillen, do The Australian, o baixista Justin Chancellor comentou com naturalidade esse desgaste, mas confirmou algo que os fãs esperam ouvir: sim, o grupo está trabalhando em material novo — apenas sem nenhuma previsão concreta.
A entrevista reacende o debate sobre o método criativo do Tool, um processo lento, fragmentado e baseado mais em experimentação do que em metas rígidas. Chancellor detalhou esse ponto, explicou como os projetos paralelos ajudam a aliviar a pressão e reforçou que a banda está, de fato, em movimento — mesmo que a passos próprios.
Como o Tool encara a pressão por novidades
Questionado se já se irrita ao ser perguntado repetidamente sobre música nova, Chancellor respondeu com sinceridade, mas sem perder o bom humor. “Um pouco. Um pouco. Mas tudo bem. Tudo bem”, disse. Ele explicou que o problema não é a pergunta em si, mas a expectativa de velocidade que não combina com a banda. Segundo ele, a verdade é simples: “O fato é que posso dizer que estamos trabalhando em novas músicas. Não sei quando vamos terminar. Estamos mexendo em coisas, entre idas e vindas, há alguns anos. Estamos sempre trabalhando em novas músicas.”
O baixista reforçou que o Tool mantém atividade criativa constante, mesmo que o público não veja o processo. Ele contou que esteve recentemente no estúdio com o baterista Danny Carey, desenvolvendo ideias e explorando possibilidades: “Eu estava no estúdio com o Danny na semana passada, batendo algumas ideias.”
Para Chancellor, no entanto, qualquer cobrança por datas vai contra a lógica artística do grupo. “Eu sempre digo isso: arte realmente não tem agenda. Você não pode forçar. E, quando força, tende a não funcionar tão bem”, comentou. Essa forma de criar já é parte da identidade da banda. Ele complementa: “Especialmente no nosso grupo, é assim que funciona. É uma alquimia diferente.”
Ele ainda mencionou que todos os integrantes têm projetos paralelos — algo que, em vez de atrapalhar, ajuda no processo geral. “O Maynard tem os projetos dele. O Danny faz um monte de coisas diferentes, o Adam faz outras paradas, e eu também tenho as minhas”, relatou. Segundo ele, essa separação natural dá “espaço” para cada um respirar, viver novas experiências e voltar com ideias renovadas quando o Tool se reúne. “Isso nos dá uma folga que serve para alimentar o que fazemos quando voltamos a trabalhar juntos.”



Adam Jones e Maynard James Keenan, do Tool, em registro feito em 2017 | Foto: Steven Ferdman / Getty Images

O peso da fama de “banda que demora demais”
Chancellor também comentou sobre a piada constante envolvendo o tempo que o Tool leva para lançar álbuns. “É uma pergunta meio esquisita, porque todo mundo está sempre tirando sarro, dizendo que demoramos muito para fazer música”, observou. Ainda assim, ele não se incomoda com essa reputação. Pelo contrário, diz sentir orgulho do resultado final: “Mas tenho orgulho de tudo o que fizemos. Treze anos — eles sempre falam que foram treze anos — parece uma semana para mim. Quando estávamos trabalhando nisso todos os dias, estávamos moendo aquilo. E no fim das contas, não importa. Se você faz algo decente, mesmo que seja uma coisa só, já vale a pena.”
Ao ser lembrado de que essa ansiedade do público também pode ser interpretada como elogio — afinal, nem todo artista veterano tem fãs implorando por material novo —, o baixista concordou. “Sim, concordo com isso.” Mas ele reforçou que a prioridade é manter a originalidade. “Acho mais interessante levar muito tempo para encontrar algo único do que ficar se repetindo.”
No trecho mais direto da entrevista, ele deixou claro que o Tool não pertence à lógica industrial do pop. “Sem ofensa a ninguém — vamos chamar de música pop — que fica lançando hits um atrás do outro. As pessoas amam isso. Tem seu lugar. Tem gente que é boa nisso, mas não somos nós. Estamos focados em tentar criar algo único que nunca foi ouvido antes.”
Segundo Chancellor, nem sempre essa busca é simples. “Às vezes fica mais difícil. Às vezes, simplesmente aparece — alguns dias você pensa: ‘Uau, o que é isso?’ E você mostra para os amigos e eles dizem: ‘Uau, isso é incrível.’ Surge do nada.” Para ele, não existe fórmula, e talvez o único “método” real seja viver: “Se existe alguma fórmula, é continuar vivendo a vida, explorando e deixando que isso entre no que fazemos.”
O futuro do Tool e a movimentação da banda em 2024
Mesmo sem projeções de álbum novo, o Tool segue ativo. O grupo está prestes a retornar à Austrália pela primeira vez desde 2020, como headliner do festival Good Things e com apresentações adicionais em Perth e Adelaide. Será também o primeiro grande festival australiano em que a banda assume o posto principal desde sua performance no Big Day Out, em 2011.
O Good Things acontece entre 5 e 7 de dezembro, passando por Melbourne, Sydney e Brisbane. A turnê reforça que, apesar da rotina criativa lenta, o Tool continua operando em alto nível nos palcos.
O último álbum da banda, Fear Inoculum (2019), foi um dos lançamentos mais aguardados de sua geração. A recepção crítica foi amplamente positiva: a NPR afirmou que “‘Fear Inoculum’ valeu os 13 anos de espera”, enquanto a Revolver descreveu o disco como “uma obra-prima a ser dissecada por anos”. Já a Consequence disse que o álbum mostra “o Tool em desempenho máximo”.
Em 2022, o grupo revisitou o passado com Opiate², uma versão reimaginada e estendida da faixa-título do EP de 1992, acompanhada de um curta-metragem — primeiro vídeo novo da banda em 15 anos. No mesmo período, também foi lançado o aguardado Ultra Deluxe de Fear Inoculum, com cinco discos de vinil de 180g, gravações especiais e um livro com artes inéditas.
Com cinco álbuns, dois EPs e quatro Grammys no currículo, o Tool segue como uma das bandas mais influentes do metal progressivo contemporâneo. E, embora o próximo capítulo ainda não tenha data, Chancellor reforça que ele está em andamento — apenas no ritmo particular que o grupo insiste em preservar.
LEIA TAMBÉM:
Notícias, resenhas e cultura underground em destaque.
© 2025. Todos os direitos reservados.
Música, atitude e resistência em alta rotação.
Rebobinando o furdunço, Dando o play no Fuzuê.
Siga a gente nas redes sociais


