JOÃO PARAHYBA lança “MANGUNDI”: um mergulho livre nas raízes e misturas da música brasileira

Lendário ritmista do Trio Mocotó apresenta novo álbum solo com samba, baião, jazz e bossa, celebrando quase seis décadas de carreira

Redação - SOM DE FITA

10/31/2025

O baterista e percussionista João Parahyba, uma das figuras mais respeitadas da música brasileira, está de volta com um novo trabalho solo após 14 anos. O disco “Mangundi”, que chega nesta sexta-feira (31) pelo selo Vitrine, sintetiza a trajetória de um artista que atravessou gerações misturando ritmos com naturalidade e liberdade criativa.
Continuo trazendo comigo a ciência e a essência do samba, do forró e da musicalidade das religiões afro-brasileiras. E toda minha essência está nesse novo disco”, afirma Parahyba, em uma declaração que traduz o espírito da obra.

Com oito faixas autorais, o álbum é uma celebração de ritmos, culturas e amizades — uma verdadeira festa sonora que resgata a alma livre de um músico que ajudou a fundar o samba-rock e moldar parte do DNA rítmico do Brasil moderno.

Mangundi: o significado de uma mistura afetiva

O título “Mangundi” carrega uma memória afetiva do artista, remetendo à infância no Vale do Paraíba, onde cresceu ouvindo de tudo — de cateretê e folia de reis à música clássica europeia. Na linguagem popular do interior paulista dos anos 1950, “mangundi” significa justamente uma mistura inusitada, e esse conceito permeia todo o disco.

A sonoridade passeia entre baião, samba, funk, bossa e jazz, tendo como base os batuques de Candomblé e Umbanda, religiões das quais Parahyba é Ogan desde o início dos anos 1970. O resultado é uma sonoridade “solta”, espontânea, que soa ao mesmo tempo sofisticada e popular.

Gravado ao longo de 90 horas no estúdio Casa da Lua, o álbum contou com a engenharia de som de Janja Gomes e a direção musical do saxofonista Jota P. Barbosa, que também assina os arranjos e composições em parceria com Parahyba em seis das oito faixas.

A banda base reúne músicos experientes e afinados: Cléber Almeida (bateria), Fernando César (piano), Giba da Silva Pinto (baixo), Rafael Kabelo (guitarra) e o próprio Jota P. nos sopros. O toque percussivo e característico de João Parahyba dá o tom do disco, conduzindo o ouvinte por uma viagem musical sem fronteiras.

Um legado que atravessa o tempo e o som

Para quem ainda associa o nome de Parahyba apenas ao Trio Mocotó, vale lembrar que ele é cofundador do grupo que nasceu em 1968, no lendário bar O Jogral, em São Paulo. Com o Trio Mocotó, ele ajudou a criar a base do samba-rock, gênero que se tornou marca registrada de Jorge Ben Jor, com quem o grupo tocou em álbuns clássicos como Força Bruta (1970) e Negro é Lindo (1971).

Hoje, aos 75 anos, João Parahyba continua expandindo horizontes e se prepara para celebrar 60 anos de carreira em 2026. O lançamento de Mangundi é o primeiro passo dessa comemoração, que deve incluir novas apresentações e o lançamento do álbum em LP no próximo ano.

Capa de Mangundi, novo álbum do baterista e percussionista João Parahyba | Foto: Divulgação

“Assim como no álbum anterior ‘Samba no balanço do Jazz’, fiz uma viagem ao passado para prestar homenagem aos meus professores dos trios, quartetos e quintetos de samba-jazz dos anos 1960. Eu quis que ‘Mangundi’ fosse uma síntese das minhas memórias musicais, da minha vida, e, sobretudo, que fosse um disco feito com amigos, com uma sonoridade muito solta que refletisse o espírito livre de uma banda da qual eu não fosse o líder, mas parte dela”, explica o músico.

Essa visão colaborativa se reflete nas participações especiais: Nereu Gargalo, seu parceiro no Trio Mocotó, toca pandeiro na faixa Xei-lá Town, enquanto Carrapixo assume o bandolim em quatro canções, incluindo Groove do Avião, composta por Parahyba em homenagem a Antonio Carlos Jobim e sua clássica Samba do Avião (1962).

Ritmos, espiritualidade e encontros musicais

O álbum é também um tributo às conexões espirituais e musicais que moldaram a trajetória de João Parahyba. O berimbau de Mestre Dinho Nascimento se destaca na faixa Afrodunja, dedicada à memória do produtor sérvio Mitar Subotić (Suba), uma das figuras mais inovadoras da música eletrônica brasileira dos anos 1990.

Outros nomes importantes também marcam presença, como Alex Malheiros, baixista do lendário grupo Azymuth, que assina a composição Mocotóskowa. O disco, mixado e masterizado por Luís Paulo Serafim, foi idealizado como uma celebração de amizade e ancestralidade — um espaço onde tradição e modernidade se encontram sem pressa.

Cada faixa de Mangundi é um pequeno universo rítmico. Bolo de Fubá e Forró World carregam a energia dançante do interior, enquanto Deu Jazz revela o diálogo constante entre o improviso e o balanço. Já Caramujo evoca o tempo lento da natureza, refletindo a maturidade de um músico que aprendeu a ouvir o silêncio tanto quanto o som.

Essa multiplicidade sonora reafirma o talento de Parahyba em unir mundos: o terreiro e o palco, o forró e o jazz, o samba e o rock — tudo com naturalidade e respeito às raízes.

Uma festa chamada Mangundi

Mais do que um álbum, Mangundi soa como um reencontro. Um brinde à vida, à arte e às conexões humanas que atravessam o tempo. É um disco feito com leveza, mas carregado de história — de quem viu e viveu transformações profundas na música brasileira e continua criando com a mesma curiosidade de sempre.

Parahyba, que já foi citado como uma “enciclopédia viva da percussão brasileira”, mantém aceso o espírito de experimentação que o consagrou. Mangundi não é apenas um retorno: é a confirmação de que sua arte continua em movimento, livre e aberta a novas possibilidades.

Ao longo das oito faixas, João Parahyba reafirma que a música, assim como a vida, é feita de encontros e de mistura — ou, como diria o próprio título, de um bom mangundi.

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