Há 28 anos: CARNIVAL OF SOULS: THE FINAL SESSIONS — o álbum esquecível (ou cult?) de KISS

Como um disco alternativo dos anos 90 surgiu às margens da discografia da banda e acabou sendo lançado contra a vontade

Redação - SOM DE FITA

10/29/2025

Em 28 de outubro de 1997, a banda Kiss lançou oficialmente Carnival of Souls: The Final Sessions, seu 17º álbum de estúdio — embora, em muitos aspectos, ele tenha nascido em outra era da banda e representado um dos seus momentos mais fora do habitual.

A história desse disco é marcada por tensões internas, decisões estratégicas (ou de marketing), mudanças de formação e até bootlegs que forçaram a banda a agir. No portal Som de Fita – Notícias, somos fãs da cultura underground, da vibração que rompe o óbvio, e este álbum cabe direitinho como caso de estudo: uma banda acostumada à pompa e explosão — maquiagem, fogo, palco — que resolveu, no meio da década de 1990, mergulhar num som mais denso, influenciado pelo grunge e pelo rock alternativo, e ainda assim ver seu trabalho quase engavetado.

A seguir, veremos três grandes momentos desse álbum: sua concepção e gravação; o adiamento, o surgimento dos bootlegs e o lançamento tardio; e, finalmente, o legado e a recepção crítica.

Gravação e mudança de som: quando Kiss flertou com o grunge

A gravação de Carnival of Souls: The Final Sessions começou em novembro de 1995 e se estendeu até fevereiro de 1996 — nos estúdios Music Grinder, em Hollywood. O quarteto envolvido era Paul Stanley (voz/ritmo), Gene Simmons (voz/baixo), Bruce Kulick (guitarra e, em várias faixas, baixo também) e Eric Singer (bateria).

O que chama atenção é que o álbum se distancia deliberadamente do rock ‘n’ roll glam clássico de Kiss. A produção, assinada por Toby Wright junto com Simmons e Stanley, adotou uma sonoridade mais pesada, sombria e claramente inspirada no grunge e rock alternativo dos anos 90 — com riffs encorpados, atmosfera mais densa e menos brilho de arena.

Kulick, que estava na banda desde a segunda metade dos anos 80, entregou seu penúltimo trabalho com Kiss nesse álbum — seria o último e o único (até aquele momento) em que ele assume os vocais, na faixa “I Walk Alone”. De fato, essa canção encerra o disco com uma clara declaração de individualidade dentro do conjunto.

Em entrevistas posteriores, Paul Stanley deixou claro que não acreditava que o mundo “precisasse de um segundo-classificado Soundgarden ou Alice in Chains”. Ou seja: ele mesmo admitia a tensão entre a identidade Kiss e o mergulho em sonoridades mais alternativas. Ainda assim, a banda seguiu adiante.

Outro fator relevante era o contexto. Enquanto gravavam, os rumores da reunião da formação clássica — Stanley, Simmons, Ace Frehley e Peter Criss — já rondavam o grupo. A decisão de retomar os membros originais impactou diretamente o processo e o destino do álbum.

No repertório, aparecem composições com nomes externos como Jaime St. James (do Black ’N Blue) e Tommy Thayer (que anos depois se tornaria membro da banda) na coautoria de faixas como “In My Head” e “Childhood’s End”. Tudo isso confirma que o álbum tinha ambição de renovação, apesar de ainda carregar o peso de uma banda marcada pelo visual icônico e pelas superproduções.

Em resumo, esse disco representa um Kiss que olhou para o espelho e tentou se reinventar. Mas as mudanças vinham acompanhadas de riscos.

Adiamento, bootleg e lançamento tardio: o disco que “vazou” antes de sair

Apesar de ter sido concluído entre 1995 e 1996, o álbum não foi lançado imediatamente. A razão principal? A banda resolveu cancelar seu lançamento para dar prioridade à reunião com a formação original. O projeto de gravar com Frehley e Criss tomou conta do planejamento, deixando Carnival of Souls de lado.

O que era para ficar no limbo, porém, não ficou completamente oculto: cópias bootleg começaram a circular entre fãs — uma movimentação underground inesperada e que gerou problemas de controle para a banda e a gravadora. Diante do vazamento, a gravadora decidiu lançar oficialmente o álbum em 28 de outubro de 1997.

Foto de contracapa do album Carnival os Souls: The Final Sessions, do KISS | Foto: Reprodução

O título “The Final Sessions” (“as sessões finais”) ganha então sentido duplo: de um lado, marca o fim da era “sem maquiagem” da banda; de outro, o fim do ciclo com Kulick e Singer (que deixariam a formação logo após a reunião). Kulick nunca mais gravaria como membro oficial da Kiss após esse álbum, e Singer só retornaria em 2009.

Sem turnê de apoio e com divulgação mínima, o álbum praticamente “saiu para cumprir tabela”. O único single, “Jungle”, teve pouca promoção, e a capa foi feita de modo simples, sem a grandiosidade visual que marcou outras fases do grupo. Tudo isso indicava que o disco já nascia com destino ambíguo.

Resumindo: era um álbum gravado, pronto, mas deixado de lado por razões estratégicas. Vazou, forçou um lançamento. Ficou meio “fantasma” na discografia da Kiss — nem totalmente esquecido, nem tratado com todos os louros.

Recepção, legado e retrospectiva: vilão ou cult?

Quando finalmente chegou ao público, Carnival of Souls alcançou a posição 27 na Billboard 200 nos EUA — algo modesto para o padrão da banda. Criticamente, o álbum dividiu opiniões: há quem o considere “o pior álbum dos Kiss”, e há quem veja nele uma obra instigante e diferente.

Alguns críticos apontam que, embora existam riffs e momentos inspirados, o álbum soa por vezes forçado — como uma banda tentando acompanhar tendências em vez de liderá-las. Por outro lado, em círculos mais underground, esse álbum ganhou status de “obra à parte” — justamente por não se encaixar no molde clássico de Kiss.

Para o Som de Fita, que valoriza a cultura underground, o metal e a experimentação musical, há um apelo especial em revisitar esse disco: ele representa o instante em que uma banda de estádios se permitiu experimentar, se permitiu quase falhar — e, por isso mesmo, se torna fascinante.

Alguns pontos que merecem destaque:

  • A era “sem maquiagem” da Kiss chegava ao fim. Depois desse álbum, a banda mentalmente e esteticamente voltaria à sua persona clássica.

  • Kulick cantando uma faixa principal representa um “quase álbum solo” dentro da discografia.

  • O som do álbum, inspirado pelo grunge, coloca a banda no fluxo dos anos 90 — mas sinaliza uma tentativa de adaptação.

  • Culturalmente, o disco mostra como bandas de hard rock precisaram se ajustar — nem sempre com sucesso — à nova paisagem musical.

Para fãs de metal e colecionadores, Carnival of Souls funciona como peça de transição — um documento de época. Talvez não seja o mais celebrado, mas certamente é um dos mais reveladores.

Conclusão

Há 28 anos, o Kiss entregou ao mundo um álbum que muitos consideraram “abaixo da média”, mas que, com o tempo, ganhou o status de trabalho curioso e subestimado. Carnival of Souls: The Final Sessions é prova de que mesmo bandas com identidade sólida podem — e devem — arriscar.

A história das suas sessões, do bootleg que virou lançamento e da reunião que mudou tudo, forma uma narrativa de bastidor tão interessante quanto o disco em si.

Se você ainda não ouviu esse álbum, vale escutar com o filtro da curiosidade: desligue os grandes hits da banda da cabeça e tente entender o que o Kiss estava tentando naquele momento — e o que isso revela sobre a transição do rock clássico para o alternativo, sobre mudança de rumos e identidade.

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