Gritando por Liberdade: A Cena Punk Feminista de Brasília nos Anos 90

Muito além dos palcos, elas abriram caminhos com atitude, som e resistência

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Redação - SOM DE FITA

6/4/2025

Nos anos 90, em meio a uma capital conhecida por seus palácios e burocracia, um grito rebelde ecoava nos porões e casas ocupadas de Brasília. Esse grito vinha de mulheres que usaram o punk rock como arma política, cultural e existencial. Numa cena dominada majoritariamente por homens, essas artistas colocaram o corpo, a voz e as ideias na linha de frente para construir um espaço próprio — combativo, criativo e feminista.

A cena punk feminista de Brasília se consolidou como uma das mais importantes manifestações de resistência cultural da época. Reunindo bandas, zines, shows autogestionados e coletivos, esse movimento foi uma resposta direta ao machismo estrutural, à repressão institucional e à exclusão das mulheres dos meios de expressão artística e política.

Bandas que desafiaram o sistema

Grupos como Dominatrix, Lixo Suburbano e Ex não apenas tocavam alto — elas enfrentavam tabus, denunciavam violências e expunham contradições do próprio meio punk. As letras abordavam desde opressões cotidianas até discussões sobre sexualidade, autonomia e liberdade corporal. As integrantes dessas bandas se posicionavam claramente como feministas e encontraram no punk um terreno fértil para subverter padrões.

Ao contrário do que acontecia em muitas outras cenas do país, onde as mulheres eram relegadas ao papel de “namoradas da banda” ou de público passivo, em Brasília elas estavam nos vocais, nas guitarras, nas baterias — e principalmente, nas ideias.

DIY com pegada política

O espírito do “faça você mesma” (Do It Yourself) foi essencial para fortalecer a cena. As próprias artistas organizavam eventos, produziam seus fanzines, confeccionavam camisetas e lançavam materiais de forma independente. Essa autonomia foi decisiva para criar um ambiente de apoio mútuo e de fortalecimento coletivo entre mulheres — e também para romper com o padrão mercantilizado da indústria musical.

A força da cena punk feminista brasiliense também se deu graças a espaços alternativos que acolhiam a cultura underground e movimentos sociais. Locais como o Teatro SESC Garagem, as ocupações estudantis e os centros culturais alternativos viraram verdadeiros refúgios criativos.

Documentar para não apagar

Toda essa história ganhou uma narrativa visual com o documentário "Com Elas: Punk Rock Feminista nos Anos 90", produzido com uma equipe 100% feminina. O filme resgata memórias, imagens de arquivo e depoimentos de quem viveu intensamente aquela explosão cultural. Mais do que um retrato de época, o doc é um lembrete da importância de registrar as histórias feitas por e para mulheres, muitas vezes silenciadas pelos registros oficiais.

Um legado que ainda reverbera

Mesmo com o passar do tempo, a semente plantada nos anos 90 floresceu. Muitas das mulheres que participaram daquela cena continuam atuando no meio artístico, no ativismo e na produção cultural. Além disso, coletivos feministas e bandas atuais seguem inspiradas por esse legado rebelde e necessário.

A história do punk feminista de Brasília é um capítulo fundamental da música brasileira — não apenas por sua potência sonora, mas por ter mostrado que é possível transformar raiva em arte, indignação em movimento e microfones em megafones de liberdade.

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