
Gênios Malditos da Música Alternativa Brasileira
Entre o brilhantismo e a ruína, os artistas que deixaram sua marca à margem do sistema
LISTAS
Redação - SOM DE FITA
6/13/2025




A história da música alternativa brasileira está repleta de figuras geniais que, por escolhas próprias ou circunstâncias adversas, caminharam sempre na contramão do sucesso comercial e da estabilidade artística. Muitos deles foram visionários, outros autossabotadores, mas todos marcaram a cultura nacional com obras inquietas, inovadoras e profundamente pessoais. São os chamados "gênios malditos": artistas que viveram à margem das gravadoras, da mídia tradicional e, muitas vezes, da própria sanidade.
A seguir, uma lista com nomes que sintetizam o espírito transgressor da música alternativa brasileira, figuras reverenciadas por poucos, esquecidas por muitos — mas fundamentais para entender o submundo criativo do país.
1. Itamar Assumpção
Figura central da chamada Vanguarda Paulistana nos anos 1980, Itamar Assumpção foi um compositor e performer à frente de seu tempo. Suas letras afiadas e arranjos experimentais misturavam samba, rock, reggae e funk com uma irreverência rara. Ignorado pela grande mídia, ele lançou seus discos de forma independente, comandando a Selo Independente Lira Paulistana. Itamar era obcecado pela autonomia artística, o que lhe custou o reconhecimento em vida. Morreu em 2003, vítima de câncer, mas é hoje reverenciado como um dos maiores gênios da música brasileira.
2. Sérgio Sampaio
Autor do clássico "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua", Sérgio Sampaio transitava entre o samba, o rock, o bolero e a canção de protesto. Considerado o "maldito" por excelência, foi parceiro de Raul Seixas e teve passagens conturbadas por gravadoras. Seu comportamento instável, aliado à recusa em se adequar ao mercado, o isolou artisticamente. Morreu em 1994, quase esquecido, mas é hoje cultuado como um dos letristas mais originais do país.
3. Jards Macalé
Compositor, cantor e produtor, Macalé rompeu com o tropicalismo ao denunciar a diluição estética do movimento. Chamado por ele de “produto de mercado”, foi rejeitado por alguns colegas de geração. Mesmo assim, deixou discos fundamentais como Jards Macalé (1972), onde mistura lirismo e caos, bossa nova e ruído. Macalé sempre recusou concessões comerciais e passou décadas sendo referência oculta, até ser redescoberto por novas gerações e aclamado como um mestre da contracultura brasileira.
4. Fellini
Formada em São Paulo nos anos 1980, a banda Fellini era um oásis pós-punk no Brasil dominado pela MPB e pelo rock de arena. Com influências de The Fall, Joy Division e samba, o grupo — liderado por Cadão Volpato — nunca alcançou o sucesso comercial, mas é reverenciado por sua inventividade e letras enigmáticas. A banda se separou e voltou várias vezes, mantendo-se sempre fiel à sua proposta alternativa.
5. Rogério Skylab
Compositor carioca de voz grave e letras bizarras, Rogério Skylab construiu uma carreira totalmente independente baseada em absurdismo, escatologia e crítica social. Seu disco Skylab II (2000) se tornou cult por seu humor negro e experimentação sonora. Ignorado por rádios e gravadoras, Skylab virou ícone underground por méritos próprios, mantendo sua independência e lançando dezenas de álbuns fora de qualquer padrão da indústria.
6. Walter Franco
Dono de uma discografia curta, mas impactante, Walter Franco foi um dos maiores nomes da música de vanguarda dos anos 1970. O disco Revolver (1975) é considerado por muitos uma obra-prima do experimentalismo no Brasil, com músicas minimalistas, letras filosóficas e uma abordagem quase zen. Nunca cedeu às pressões comerciais e passou boa parte da carreira à sombra dos grandes nomes da MPB, embora fosse respeitado por todos eles. Morreu em 2019, deixando um legado de ousadia artística.
7. André Abujamra
Multi-instrumentista, cantor, compositor e produtor, André é um gênio inquieto, conhecido tanto por seu trabalho solo quanto por projetos como Os Mulheres Negras. Seu som mistura música brasileira, eletrônica, rock, orquestrações e humor nonsense. Apesar do talento técnico e criativo, nunca se adaptou ao mainstream, preferindo trilhar um caminho autoral e provocador. Seus discos, como Omindá e Emidoinã, são experiências sonoras que fogem de qualquer classificação.
8. Julinho da Adelaide (alter ego de Chico Buarque)
Em pleno período de censura, Chico Buarque criou o personagem Julinho da Adelaide para driblar os militares e lançar músicas que seriam vetadas se estivessem sob seu nome. Com esse pseudônimo, assinou canções como “Acorda Amor” e “Milagre Brasileiro”. Embora não seja "maldito" no sentido tradicional, esse gesto revelou o quanto o artista estava disposto a arriscar tudo pela liberdade criativa — mesmo que isso significasse virar outro.
9. Edvaldo Santana
Compositor da periferia de São Paulo, Edvaldo mistura blues, samba e poesia urbana em suas músicas. Apesar de sua longa trajetória e qualidade reconhecida por críticos e artistas como Itamar Assumpção e Luiz Melodia, sempre foi um nome à margem da grande mídia. Seus discos são relatos sonoros da vida dura nas quebradas, mas também manifestações de força, beleza e resistência.
Esses artistas, cada um à sua maneira, desafiaram as convenções e pagaram um preço alto por sua independência criativa. São nomes que merecem ser revisitados, redescobertos e celebrados — não apesar de sua marginalidade, mas justamente por ela. Afinal, é nas beiradas do sistema que muitas vezes nascem as obras mais autênticas da arte brasileira.
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