Gangrena Gasosa: a banda brasileira que misturou metal extremo com religiosidade afro e virou símbolo de resistência cultural

Com shows performáticos, letras provocativas e muita atitude, o grupo carioca enfrentou polêmicas, protestos religiosos e censura nas plataformas — tudo isso sem perder o bom humor (e o peso)

MATÉRIA

Redação - SOM DE FITA

6/30/2025

Fundada no Rio de Janeiro no final dos anos 1980, a Gangrena Gasosa é uma banda que rompeu com todas as convenções da cena metal nacional ao criar um estilo próprio: o "saravá metal", uma fusão explosiva de hardcore, thrash e punk com elementos da umbanda e do candomblé. Com figurinos que fazem referência direta a entidades espirituais e letras carregadas de ironia e crítica social, o grupo se tornou um verdadeiro fenômeno do underground — e também alvo constante de controvérsias.

Apesar de muitas vezes incompreendida por setores conservadores, a Gangrena Gasosa construiu uma trajetória marcada por resistência, inovação e respeito à religiosidade afro-brasileira. A seguir, relembramos quatro episódios verídicos que mostram por que essa banda merece estar no radar de quem se interessa por música com identidade e coragem.

A intolerância religiosa nunca intimidou a Gangrena

Ao longo de sua carreira, a Gangrena Gasosa acumulou episódios de intolerância religiosa por parte de grupos que não compreendem a proposta artística do "saravá metal". Embora a banda reforce constantemente que sua intenção é valorizar e dialogar com as religiões afro-brasileiras, muitos críticos veem os figurinos e as letras como afrontas.

Em diversas entrevistas, os integrantes já relataram ameaças e tentativas de boicote vindas de setores religiosos mais conservadores, principalmente ligados a igrejas neopentecostais. Em vez de recuar, a banda sempre respondeu com mais arte, mais crítica e mais música.

Show em Fortaleza foi alvo de protesto religioso

Em 2012, a Gangrena Gasosa se apresentou em Fortaleza (CE) e acabou protagonizando uma situação inusitada: um grupo de evangélicos compareceu ao local do show com cartazes de protesto, acusando a banda de fazer apologia ao satanismo. A manifestação chamou atenção nas redes sociais e virou notícia em fóruns da cena alternativa.

A própria banda se pronunciou com ironia sobre o episódio, apontando a ação como exemplo claro de intolerância religiosa e desconhecimento cultural. Para os fãs, o caso apenas reforçou o espírito contestador e irreverente do grupo.

Clipe da banda foi censurado por conter sangue cenográfico e símbolos religiosos

O vídeo da música “Se Deus é 10, Satanás é 666” foi alvo de restrições no YouTube por exibir cenas com sangue cenográfico e rituais de terreiro estilizados. O conteúdo acabou ficando bloqueado para menores de idade, o que gerou reação imediata da banda nas redes sociais.

Longe de encarar a situação como um problema, a Gangrena Gasosa celebrou a censura como “uma prova de que ainda estavam incomodando”, transformando o bloqueio em ferramenta de divulgação. O episódio reforça como a banda sabe usar as próprias controvérsias a seu favor.

Lançamento de disco em terreiro reafirmou respeito e conexão espiritual

Apesar do tom provocador das letras e do visual, a Gangrena Gasosa sempre deixou claro que sua arte parte de uma relação de respeito com as religiões afro-brasileiras. Uma prova disso foi o lançamento de um de seus discos com uma cerimônia realizada em um terreiro, no Rio de Janeiro, com presença de mães de santo, roda de samba e feijoada comunitária.

O evento teve caráter simbólico e cultural, mostrando que a estética da banda não se trata de deboche ou exploração, mas sim de um mergulho artístico em tradições brasileiras que ainda sofrem preconceito.

Um som que incomoda porque representa

A Gangrena Gasosa é, acima de tudo, uma banda que nunca se acomodou. Enquanto muitos grupos evitam tocar em temas delicados, eles fazem do palco um terreiro de crítica social, humor ácido e resistência. Com décadas de estrada, ainda seguem firmes — desafiando padrões, enfrentando tabus e defendendo a pluralidade religiosa com distorção, batuque e atitude.

Se você nunca ouviu, prepare os ouvidos e a mente. Porque com a Gangrena Gasosa, o som vem pesado — e o recado também.

mais notícias: