Experiência imersiva leva o público a conhecer a cultura do povo MURA através da tecnologia e dos sentidos

Instalada na PUCPR, em Curitiba, a mostra “Amazônia Imersiva: Narrativas Indígenas” combina realidade estendida, sons, aromas e cenografia para contar a história dos Mura, povo originário da Amazônia

Redação - SOM DE FITA

10/28/2025

Aberta ao público desde o dia 27 de outubro no Centro de Realidade Estendida da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a exposição “Amazônia Imersiva: Narrativas Indígenas” convida os visitantes a uma jornada sensorial pela memória e pela história do povo Mura, um dos grupos indígenas originários da Amazônia. A mostra, gratuita e aberta até 11 de novembro, combina arte, tecnologia e ancestralidade para oferecer uma vivência única, em que o público pode literalmente sentir, ouvir e ver o ambiente amazônico dentro de uma sala em Curitiba.

O projeto é uma iniciativa do ex-aluno da PUCPR Humberto Salgueiro, em parceria com os músicos e irmãos Darlison e Lucas Meireles, descendentes do povo Mura e residentes no norte do Paraná. A realização é da produtora Click Arte Cultura e Educativos em colaboração com o coletivo Puxirum — nome que, na língua Mura, significa “trabalho coletivo” ou “mutirão”.

Segundo Salgueiro, a proposta nasceu do desejo de unir tradição e inovação para fortalecer a valorização das culturas indígenas. “A gente uniu esse intercâmbio cultural de trazer lá do norte do estado a história do povo Mura, aqui para Curitiba”, contou o idealizador à Agência Brasil. “A gente tem sessões o dia inteiro, das 9h às 21h”.

O público pode agendar sua visita gratuitamente no site oficial da exposição, escolhendo o melhor horário para vivenciar a experiência. A classificação etária é livre, e o evento é uma oportunidade tanto educativa quanto cultural para todas as idades.

Um mergulho sensorial na floresta amazônica

A experiência da mostra vai além da contemplação visual. O visitante é transportado para o coração da floresta por meio de projeções 360º, sons ambientes e até aromas naturais. O espaço expositivo conta com cenografia detalhada, iluminação dinâmica e efeitos sonoros tridimensionais, proporcionando uma imersão completa nos elementos que compõem o cotidiano amazônico.

“Então, a gente trouxe essa experiência sensorial de várias formas”, explicou Salgueiro. “A iluminação interage com o som. A gente monta a floresta, tem a cenografia das plantas. A iluminação começa diurna”. Com o passar dos minutos, o cenário se transforma: os sons do dia, como o canto dos pássaros e o farfalhar das folhas, dão lugar aos ruídos da noite — grilos, corujas e outros animais noturnos.

Essa transição entre o dia e a noite na floresta é um dos momentos mais marcantes da exposição, e ajuda o público a compreender a profunda relação dos Mura com o ambiente natural. O uso da tecnologia imersiva permite que o visitante não apenas aprenda sobre o bioma amazônico, mas sinta na pele a atmosfera de um dos ecossistemas mais ricos do planeta.

Além do aspecto sensorial, a mostra também traz um conteúdo histórico e reflexivo. Entre os temas abordados estão a chegada dos europeus à Amazônia, os impactos do contato com os colonizadores e o processo de dispersão do povo Mura ao longo dos séculos. Tudo isso é apresentado de forma envolvente, sem perder o compromisso com a fidelidade histórica e a valorização da cultura indígena.

Exposição Amazônia Imersiva retrata a história e as vivências do povo Mura, da Amazônia | Foto: Humberto Salgueiro/Divulgação

Cultura viva e educação ambiental

O povo Mura ainda habita a região amazônica, principalmente no município de Autazes, no estado do Amazonas, próximo ao Rio Madeira. Mantêm tradições, rituais e modos de vida que refletem a resistência e a conexão profunda com a natureza. Por isso, além de um espetáculo artístico, a exposição “Amazônia Imersiva” tem também um caráter educativo e ambiental.

Durante a abertura da mostra, estudantes de escolas públicas tiveram contato direto com elementos da natureza recriados no espaço expositivo. O aroma das plantas, a textura dos materiais e a presença simbólica de espécies como o Pau-brasil — árvore que representa o próprio nome do país — despertaram curiosidade e encantamento nas crianças. A iniciativa busca despertar consciência ecológica e respeito à diversidade cultural desde cedo.

O projeto foi viabilizado por meio da Lei Aldir Blanc de Incentivo à Cultura e contou com apoio do Governo do Estado do Paraná. “É um projeto financiado pelo estado do Paraná”, destacou Salgueiro, reforçando a importância do investimento público em iniciativas que promovem o diálogo entre tradição e tecnologia.

Para o músico Darlison Meireles, um dos criadores da trilha sonora da mostra, o trabalho é uma forma de reconectar-se com suas origens. “O nome Puxirum que a gente traz no projeto é sobre um mutirão, um coletivo. A gente traz essa história, passada de gerações a gerações, porque é uma herança do povo Mura”, explicou.

Expansão e legado cultural

Após o sucesso da mostra em Curitiba, os idealizadores pretendem levar a exposição para outras regiões do Paraná e, posteriormente, para diferentes partes do Brasil. A ideia é que o projeto se torne um modelo itinerante de educação cultural e ambiental, aproximando comunidades urbanas das tradições amazônicas.

Salgueiro acredita que a tecnologia pode ser uma ponte poderosa entre o público contemporâneo e as culturas tradicionais. “Às vezes, fica muito mais atrativo as pessoas quererem participar de uma atração imersiva e conhecer esses povos originários, ribeirinhos, essa cultura que o nosso Brasil tem. É importante valorizar a cultura brasileira”, afirmou.

A iniciativa reforça uma tendência crescente de usar recursos audiovisuais e interativos para preservar e difundir o patrimônio cultural indígena. Ao unir a ancestralidade dos Mura à inovação da realidade estendida, “Amazônia Imersiva: Narrativas Indígenas” mostra que o futuro da arte pode — e deve — dialogar com o passado, construindo novas formas de aprender, sentir e respeitar as múltiplas identidades do Brasil.

Fonte: Agência Brasil

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