
Do PROG ao CINEMA: Como o ROCK PROGRESSIVO ITALIANO Influenciou Trilhas Sonoras de Terror e Ficção
Como o som progressivo da Itália moldou a atmosfera única do terror e da ficção nos cinemas, unindo Goblin, Argento e uma geração de músicos visionários.
Redação - SOM DE FITA
9/3/2025



Imagem gerada por IA



Durante os anos 1970, a Itália se consolidou como um dos polos mais criativos do rock progressivo mundial. O chamado Rock Progressivo Italiano (RPI) trouxe nomes como Premiata Forneria Marconi, Banco del Mutuo Soccorso e Le Orme, que, apesar de não terem o mesmo alcance internacional de gigantes britânicos como Genesis ou King Crimson, alcançaram enorme impacto cultural em seu país. Foi nesse ambiente efervescente que o cinema percebeu um potencial único: transformar essa música ousada em elemento narrativo.
O gênero giallo, que mesclava mistério, violência estilizada e cores vibrantes, encontrou no progressivo um aliado perfeito. A estrutura não convencional das músicas, as mudanças bruscas de clima e a fusão de elementos do jazz, da música erudita e da eletrônica criavam atmosferas ideais para o suspense psicológico. Ao unir som e imagem, diretores como Dario Argento passaram a usar o rock progressivo não apenas como trilha incidental, mas como parte da identidade estética de suas obras. Assim, a ponte entre palco e tela tornou-se um dos marcos mais originais da cultura italiana dos anos 1970.
Goblin: a banda que redefiniu o terror
Quando se fala em rock progressivo italiano no cinema, é impossível não mencionar a Goblin. O grupo surgiu como uma banda de rock experimental, mas ganhou notoriedade mundial ao trabalhar com Dario Argento. A trilha de Profondo Rosso (1975) foi um divisor de águas: com batidas marcantes, teclados hipnóticos e guitarras incisivas, a música não apenas acompanhava a narrativa, mas também ditava o ritmo do medo.
Dois anos depois, em Suspiria (1977), a Goblin elevou a proposta a outro nível. O uso de vozes sussurradas, percussões tribais e sintetizadores sombrios criou um ambiente sonoro que parecia vir de outro mundo. A música se tornou tão marcante que muitos espectadores lembram mais dos sons agudos e dissonantes da trilha do que de certas cenas do próprio filme. Esse impacto redefiniu como o público consumia o terror: o medo já não vinha apenas da imagem, mas também da música que ecoava na sala escura.
O sucesso da Goblin abriu portas para a banda em outros projetos cinematográficos, incluindo Dawn of the Dead (1978), de George A. Romero, em que o grupo expandiu ainda mais sua sonoridade. Com isso, eles provaram que um coletivo oriundo do prog podia se tornar referência definitiva no universo das trilhas sonoras, ultrapassando fronteiras culturais e linguísticas.
Dos palcos às telas: músicos que migraram para as trilhas
Embora a Goblin seja o exemplo mais conhecido, ela não foi a única a explorar essa interseção entre música progressiva e cinema. Muitos músicos italianos ligados ao prog migraram para a composição de trilhas sonoras, seja por convites de diretores ou pela necessidade de expandir sua atuação profissional. Essa transição foi facilitada pelo perfil desses artistas, que dominavam tanto instrumentos tradicionais quanto as novas tecnologias musicais da época.
Ennio Morricone, ainda que associado principalmente ao western spaghetti, dialogou com a estética progressiva em diversas trilhas dos anos 1970. Seu trabalho em filmes de suspense e horror muitas vezes incorporava estruturas experimentais, dissonâncias e arranjos que lembravam a ousadia do prog. Além dele, outros compositores, como Stelvio Cipriani e Fabio Frizzi, exploraram texturas eletrônicas e camadas sonoras que aproximavam suas criações da linguagem progressiva.
Esses músicos ajudaram a expandir a percepção de que o cinema poderia ser um laboratório de experimentação sonora. Muitos deles estavam habituados às improvisações e às estruturas complexas do prog, o que os tornava aptos a lidar com as exigências narrativas de filmes que buscavam causar impacto psicológico. Assim, a transição dos palcos para as telas não foi apenas natural, mas também necessária para consolidar o cinema italiano como referência estética global.
Som, medo e imaginação: a estética que marcou gerações
A união entre rock progressivo italiano e cinema não se limitou a um experimento isolado. Ela moldou uma estética que permanece viva até hoje. O uso de sintetizadores modulares, teclados Hammond e guitarras processadas com efeitos de distorção e delay resultou em paisagens sonoras capazes de provocar desconforto e fascínio simultaneamente. O espectador não apenas assistia ao filme, mas era envolvido por uma experiência sensorial completa.
Esse estilo influenciou não apenas o giallo, mas também o cinema de terror e ficção científica internacional. John Carpenter, por exemplo, desenvolveu trilhas minimalistas que ecoam a lógica progressiva de repetição e tensão crescente. Décadas depois, o movimento synthwave retomou essa sonoridade, recriando atmosferas que remetem diretamente aos trabalhos da Goblin e de outros compositores italianos dos anos 1970.
Assistir a filmes como Suspiria ou Profondo Rosso é reviver um momento em que a música tinha tanto peso quanto a imagem. O legado deixado pelo rock progressivo italiano no cinema é a prova de que a ousadia criativa pode ultrapassar fronteiras artísticas. O que começou como experimentação em estúdios e palcos se transformou em parte fundamental da linguagem audiovisual, marcando para sempre a forma como entendemos o som do medo.
Goblin no Supersonic Festival 2009 (Massimo Morante na foto)
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