
De Lampião ao Pop: As Músicas Nordestinas que Influenciaram Gerações no Brasil
Da sanfona ao sample, veja os clássicos nordestinos que deixaram marcas profundas na música brasileira de todos os estilos
LISTAS
Redação - SOM DE FITA
6/10/2025




A música nordestina é muito mais do que um estilo: é um coração pulsante dentro da alma cultural brasileira. Seus ritmos, melodias e letras têm atravessado o tempo, as fronteiras regionais e os preconceitos, influenciando desde os tropicalistas e roqueiros psicodélicos dos anos 70 até o pop moderno e a nova MPB. Neste caldeirão fértil nascido entre o sertão, o litoral e os centros urbanos, surgiram canções que moldaram não apenas o som do Nordeste, mas de todo o Brasil.
Nesta lista, reunimos algumas das músicas nordestinas mais influentes da história. Não são apenas sucessos: são marcos que inspiraram gerações de artistas, dos mais populares aos mais experimentais. Canções que viraram hino, resistência, identidade.
1. Asa Branca – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
“Asa Branca” não é apenas uma música, é uma pintura sonora do sertão brasileiro. Composta em 1947, em plena era do rádio, ela trouxe para o centro do país a angústia e a fé do povo nordestino. A canção fala da seca, da migração forçada e do desejo de voltar para a terra natal com o coração cheio de esperança. A força de sua melodia simples e marcante atravessou décadas, sendo regravada por praticamente todos os grandes nomes da música brasileira. Sua influência se estende da MPB ao rock, da tropicália ao punk nordestino. É um verdadeiro hino da brasilidade, que ensinou aos músicos urbanos a cantar o sertão com respeito e emoção.
2. Feira de Mangaio – Sivuca e Glorinha Gadelha
Essa composição é uma festa ambulante. “Feira de Mangaio” capta o espírito do interior nordestino com suas cores, sons e cheiros, transformando uma simples feira em um espetáculo cultural. A música popularizou a mistura de ritmos como forró, baião e choro, com um arranjo sofisticado que destaca o talento de Sivuca como multi-instrumentista e maestro. Sua versatilidade encantou artistas como Clara Nunes, que eternizou a canção, além de inspirar gerações que buscavam mesclar o regional com o erudito, como Hermeto Pascoal, Elba Ramalho e Chico César. Uma verdadeira ponte entre tradição e inovação.
3. O Canto da Ema – Jackson do Pandeiro
Jackson do Pandeiro é considerado um dos gênios do ritmo brasileiro. “O Canto da Ema”, lançada em 1953, é um forró animado que apresenta uma estrutura rítmica rica e extremamente dançante. Com seu jeito único de cantar e percutir as palavras, Jackson criou um estilo que influenciou músicos em todo o país. Essa música específica foi fundamental para formar a base do que viria a ser o manguebeat, inspirando bandas como Chico Science & Nação Zumbi, além de ser referência para roqueiros e sambistas que desejavam incorporar suingue em suas composições. Ela simboliza o Nordeste como território de inovação rítmica.
4. Bicho de Sete Cabeças – Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Renato Rocha
Mais do que uma música, “Bicho de Sete Cabeças” é uma obra de arte poética. A letra fala sobre a incompreensão social diante da loucura e da rebeldia, sendo interpretada por muitos como uma metáfora da repressão política ou da opressão psiquiátrica. O impacto da canção foi tão profundo que inspirou artistas de fora do eixo nordestino, como Cazuza e Renato Russo, pela forma como trata de dor, exclusão e liberdade. A combinação de elementos acústicos com uma melodia melancólica e visceral abriu caminhos para a MPB mais existencialista e para o rock poético dos anos 80 e 90.
5. Riacho do Navio – Luiz Gonzaga e Zé Dantas
“Riacho do Navio” é uma carta de amor à vida simples e ao orgulho de pertencer ao sertão. A música traz um retrato do desejo de voltar para casa, valorizar a natureza, cuidar dos bichos e da família. É uma afirmação da identidade nordestina diante do êxodo rural e das promessas do Sudeste industrializado. Sua melodia envolvente e letra singela foram influência direta para artistas como Alceu Valença, Fagner e Belchior, que construíram canções marcadas por essa tensão entre a cidade e o sertão. A música também foi fundamental para o discurso visual e lírico do movimento manguebeat, que revalorizou o regionalismo com atitude punk.
6. Vaca Estrela e Boi Fubá – Patativa do Assaré (na voz de Luiz Gonzaga)
Baseada em um poema do mestre Patativa do Assaré, essa música emociona por sua simplicidade e lirismo. Trata-se de uma lembrança da infância no campo, dos vínculos com os animais e do tempo da inocência. O impacto de Patativa não foi apenas musical, mas cultural e literário. Suas palavras influenciaram diretamente compositores que valorizam o texto na canção, como Belchior, Zé Ramalho, Elomar e até nomes mais recentes como Lirinha e Siba. Ao ser interpretada por Luiz Gonzaga, a música ganhou ainda mais força e se tornou um exemplo perfeito de como poesia e música popular podem andar de mãos dadas no Brasil.
7. Último Pau de Arara – Venâncio, Corumbá e J. Guimarães
“Último Pau de Arara” conta a saga dos retirantes nordestinos em busca de uma vida melhor nas grandes cidades do Sudeste. Mais do que uma música de estrada, ela retrata o drama da migração, o preconceito e a saudade. A canção foi abraçada por Gilberto Gil durante a Tropicália, e sua influência ressoa em movimentos musicais engajados socialmente. O tema da migração e da identidade despedaçada é recorrente em toda a MPB e no rock nacional, e essa canção é uma das raízes desse discurso. Raul Seixas, Belchior e Gonzaguinha são alguns dos que beberam dessa fonte narrativa.
8. Táxi Lunar – Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo
“Tô te esperando no táxi lunar…” Essa frase já virou quase uma entidade para os fãs da psicodelia nordestina. A música é um delírio poético que mistura imagens cósmicas com elementos do cotidiano nordestino. Fruto da parceria entre três gênios, ela ajudou a estabelecer o som do Nordeste como algo que podia ser tanto místico quanto popular, tanto urbano quanto ancestral. Sua influência pode ser sentida no trabalho de artistas como Otto, Karina Buhr, Mombojó, Ave Sangria e Cordel do Fogo Encantado — todos representantes de um Nordeste moderno, autoral e cheio de identidade. Um clássico que abriu portas para novas linguagens sonoras e visuais.
Essas músicas representam mais do que o som de uma região: são trilhas da memória coletiva brasileira. Suas melodias, letras e ritmos seguem vivos, sendo revisitados e reinventados constantemente. A influência da música nordestina não para no passado — ela se projeta no futuro, como um farol que ilumina novas formas de fazer arte com identidade, força e verdade.
Se você é artista, produtor ou apenas apaixonado por música, revisitar esses clássicos é mergulhar em uma fonte inesgotável de inspiração.
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