Bruce Dickinson aponta por que é tão raro surgir uma nova grande banda de metal

Para o vocalista do Iron Maiden, fatores como tecnologia, público envelhecido e mercado dominado por grandes corporações têm dificultado o crescimento de novos nomes no gênero

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Redação - SOM DE FITA

5/14/2025

Bruce Dickinson, a voz lendária do Iron Maiden, voltou a comentar sobre um tema que sempre gera debates entre os fãs do metal: por que não vemos mais bandas novas alcançando o mesmo nível de grandeza que os medalhões do gênero? Em entrevista ao G1, o cantor compartilhou uma visão que mistura mudanças tecnológicas, alterações sociais e dinâmicas da indústria musical.

Segundo Bruce, o cenário é bem diferente daquele dos anos 1980, quando o metal explodiu com força mundial. Hoje, a estrutura para fazer uma banda crescer do zero até os grandes palcos está cada vez mais fragmentada. “É uma combinação de fatores de moda na mídia até o jeito que se faz turnê, que mudou a disponibilidade de shows para as bandas tocarem e construírem uma base de fãs ao vivo”, analisou.

O vocalista também comentou que o alto custo dos ingressos e a avalanche de entretenimento digital afastam o público das experiências ao vivo:

“O fato de os preços dos ingressos estarem enlouquecidamente mais caros, as pessoas não saem tanto para ver novas bandas e seguirem elas. Tem tantas alternativas em vez de sair e ver uma banda… Você pode assistir YouTube, pode jogar um videogame imersivo, ter a experiência no equipamento de VR, são muitas distrações.”

Outro obstáculo está na própria demografia do público. A plateia está envelhecendo, e há cada vez menos jovens interessados — ou disponíveis — para renovar a cena:

“Não temos tantas bandas grandes e eu acho que é por causa do cenário atual. São muitos desafios diferentes e pessoas competindo por atenção e é muito difícil de crescer. [...] O público na América do Norte está ficando bem velho e o número de jovens está diminuindo. [...] Mas, agora, por alguma razão, as pessoas não estão tendo mais bebês.”

Essa não foi a primeira vez que Dickinson tocou nesse assunto. Em dezembro passado, durante conversa com a rádio sueca Bandit Rock, ele já havia apontado o foco exclusivo em lucro como um dos principais empecilhos para o surgimento de novas grandes bandas.

“Não há nenhuma atração principal. Você pode contar os headliners nos dedos de uma mão. [...] E, infelizmente, a razão para isso, eu acredito, é que as grandes corporações assumiram tudo e estão interessadas em ganhar dinheiro. [...] Não trazem as bandas que criam o enredo para apresentar à base de fãs, criar a dedicação para trazê-lo à tona.”

Para ele, o crescimento de uma banda deveria acontecer de forma orgânica, por meio de palcos pequenos, público fiel e evolução gradual. Mas esse caminho parece cada vez mais difícil num mercado guiado por cliques, algoritmos e contratos milionários.

“Você não se torna atração principal da noite para o dia. É preciso fazer shows em vários lugares, criar uma base de fãs. [...] E o próximo passo é: ‘Oh, eles vão ser a atração principal de um festival.’ E nesse momento você dá um passo nesse mundo.”

Isso levanta uma reflexão importante: será que o metal, como conhecemos, ainda terá espaço para novos gigantes — ou estamos vivendo a era dos últimos titãs?