Black Heaven - Earthless

RESENHA

Por Zé do Caos

3/24/2025

O Earthless sempre foi conhecido por criar verdadeiras viagens instrumentais intergalácticas — jams infinitas que uniam o peso do heavy psych com a imensidão do space rock. Um power trio capaz de contar histórias sem dizer uma palavra. Mas em Black Heaven (2018), a banda abriu um novo portal: adicionou vocais ao seu som, pela primeira vez na carreira, e com uma ousadia que poderia dividir opiniões. O resultado? Funcionou absurdamente bem.

O guitarrista Isaiah Mitchell, agora também na função de vocalista, trouxe uma nova camada à identidade da banda. Se antes o Earthless parecia um ritual puramente instrumental, onde riffs hipnóticos e solos sem pressa formavam narrativas próprias, aqui eles abraçam estruturas mais diretas. É como se, de repente, as longas viagens espaciais tivessem ganhado forma de canção — mas sem perder a imersão cósmica que sempre marcou o trio.

Hard rock setentista com DNA psicodélico

Logo na abertura com “Gifted by the Wind”, a mudança fica evidente. O groove direto e a energia hard rock lembram um encontro entre o Cream e Jimi Hendrix, com riffs que grudam na cabeça e um vocal que se encaixa sem forçar. É uma faixa que prova como a banda pode soar mais acessível sem comprometer sua identidade.

A faixa-título, “Black Heaven”, desacelera o ritmo, mas traz um clima mais denso e soturno, com um andamento cadenciado que mantém a atmosfera psicodélica. É aqui que o Earthless mostra que não abandonou seu lado espiritual, apenas o adaptou a um novo formato.

A viagem continua

Se alguém temeu que os vocais fossem limitar a liberdade instrumental, “Sudden End” está aí para tranquilizar. É uma faixa onde a guitarra de Mitchell respira com amplitude, entregando um solo que convida o ouvinte a fechar os olhos e se sentir flutuando no espaço sideral. É a prova de que a essência da banda continua intacta: a viagem ainda está lá, apenas com novos caminhos.

Reinvenção sem perder a essência

Black Heaven respira classic rock, mas sem parecer datado. É um disco que equilibra com inteligência o peso do hard rock com a fluidez do space rock, mostrando que o Earthless não tem medo de se reinventar. O trio californiano conseguiu transformar sua sonoridade sem perder a alma — e isso, para fãs de longa data, é um alívio.

Um disco para viagens reais e mentais

Seja para pegar estrada ao pôr do sol ou para se desligar do mundo em uma sessão de fones de ouvido, Black Heaven é o companheiro ideal. É um álbum que não só mantém o espírito aventureiro do Earthless, como também o traduz para um público que talvez ainda não tivesse entrado nessa nave.


Nota: 9/10
Destaques: “Gifted by the Wind”, “Black Heaven” e “Sudden End”.

Zé do Caos assina em baixo.

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