
Beyoncé é criticada por estampa com linguagem considerada anti-indígena em show na Europa
Camiseta usada durante apresentação da turnê Cowboy Carter exibe texto controverso sobre povos indígenas e mexicanos, gerando protestos nas redes sociais e reações de acadêmicos
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Redação - SOM DE FITA
7/3/2025




Durante sua apresentação em Paris no dia 19 de junho, Beyoncé gerou controvérsia ao usar uma camiseta com imagens dos Buffalo Soldiers — unidade militar formada por soldados negros norte-americanos após a Guerra Civil dos EUA — acompanhada de uma descrição que foi amplamente criticada por seu conteúdo ofensivo a povos indígenas e mexicanos. O caso vem gerando debates intensos sobre representatividade, memória histórica e responsabilidade artística.
O que dizia a camiseta
A peça de roupa exibia em seu verso uma descrição dos inimigos enfrentados pelos Buffalo Soldiers, incluindo termos como "inimigos da paz, da ordem e do assentamento", "revolucionários mexicanos", "assassinos", "contrabandistas", "ladrões de gado" e "debandados". A linguagem remonta a documentos e narrativas militares do século XIX, que descreviam dessa forma os povos originários e grupos insurgentes que resistiam à expansão territorial dos Estados Unidos.
A apresentação ocorreu no Juneteenth, feriado que celebra a abolição da escravidão nos Estados Unidos, o que deu ainda mais visibilidade ao gesto.
Repercussão e críticas
A reação nas redes sociais foi rápida e intensa. Diversos ativistas indígenas, historiadores e usuários denunciaram a escolha da estampa como insensível e ofensiva. Muitos alegam que, embora os Buffalo Soldiers tenham um papel importante na história dos afro-americanos, sua atuação esteve diretamente ligada à repressão violenta de comunidades indígenas durante a conquista do Oeste.
A historiadora Alaina E. Roberts, especialista em história afro-americana e indígena, destacou em entrevista ao The Guardian que os Buffalo Soldiers participaram ativamente de campanhas militares que resultaram em mortes, deslocamentos forçados e o enfraquecimento de culturas nativas.
"Esses soldados negros foram, em muitos casos, agentes da colonização do Oeste. Sua história é complexa e não pode ser celebrada sem considerar os impactos que tiveram sobre os povos indígenas", afirmou Roberts.
A resposta do público e da crítica
O episódio gerou uma divisão entre fãs e críticos. Alguns defensores de Beyoncé argumentam que a artista tem se empenhado em resgatar símbolos do Velho Oeste de maneira crítica e empoderadora, especialmente para a população negra americana. No álbum Cowboy Carter, ela reinterpreta o imaginário country para incluir vozes negras, muitas vezes esquecidas pela indústria musical e pelo cinema.
No entanto, para muitos críticos, ressignificar esses símbolos não pode ocorrer sem um olhar atento às consequências históricas que eles carregam. A criadora de conteúdo Chisom Okorafor, conhecida no TikTok como @confirmedsomaya, comentou: “Não existe uma forma progressista de recuperar a história imperialista dos Estados Unidos sem confrontar a violência envolvida.”
Museus como o Buffalo Soldiers National Museum, nos EUA, também vêm atualizando suas exposições para incluir o impacto das ações dessa unidade sobre populações indígenas, buscando apresentar uma visão mais abrangente e crítica do passado.
Beyoncé se pronunciou?
Até o momento, Beyoncé e sua equipe não emitiram nenhum comunicado oficial sobre o caso. A ausência de resposta tem gerado ainda mais debate, com parte do público cobrando um posicionamento claro, enquanto outros consideram a polêmica exagerada.
O papel da arte na reconstrução histórica
O episódio levanta discussões importantes sobre como símbolos e narrativas históricas devem ser usados na arte contemporânea. O resgate de figuras como os Buffalo Soldiers pode ter o objetivo de destacar a resistência e o protagonismo negro, mas precisa ser feito com sensibilidade e respeito às múltiplas camadas de memória e dor envolvidas.
A controvérsia envolvendo Beyoncé revela as tensões existentes entre representatividade, apropriação simbólica e responsabilidade cultural. Em tempos de vigilância nas redes sociais e maior consciência histórica, a arte que busca recontar o passado precisa lidar com os riscos de repetir exclusões e silenciamentos — ainda que de forma não intencional.
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