
Bandas que Desafiaram Guerras para Subir ao Palco
Quando a música atravessa trincheiras e resiste ao caos
LISTAS
Redação - SOM DE FITA
7/28/2025




A música é uma das expressões mais poderosas da humanidade, capaz de romper fronteiras culturais, ideológicas e até mesmo militares. Em diferentes momentos da história, artistas levaram suas canções para zonas de guerra ou territórios devastados por conflitos, desafiando riscos e mostrando que a arte pode oferecer alívio, esperança e até reconciliação em meio ao caos. Nesta matéria, vamos relembrar concertos históricos realizados em regiões marcadas por guerra, que provaram que, às vezes, a música fala mais alto do que os canhões.
1. Bruce Dickinson e o Show Improvável em Sarajevo (1994)
Em 1994, a cidade de Sarajevo vivia um dos períodos mais sombrios da sua história: o cerco que durou de 1992 a 1996, deixando milhares de mortos e transformando a capital bósnia em um campo de resistência sob fogo constante. Foi nesse cenário que Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, decidiu fazer algo impensável: entrar em plena zona de guerra para levar música aos sobreviventes.
No dia 14 de dezembro de 1994, Bruce Dickinson e sua banda solo Skunkworks realizaram um show no Centro Cultural da Bósnia (BKC). A missão foi apoiada por integrantes da ONU, que ajudaram a garantir a entrada da equipe na cidade sitiada. Mesmo sob risco constante de ataques, o público compareceu em peso, sedento por um momento de escape da realidade brutal do conflito.
O show ficou conhecido como “o concerto mais improvável do mundo”. Em entrevistas, Bruce comentou sobre o impacto emocional do evento, dizendo que nunca havia sentido um público tão profundamente tocado pela música. Em reconhecimento à sua coragem e ao significado simbólico do gesto, Bruce Dickinson foi nomeado cidadão honorário de Sarajevo anos depois. Essa apresentação foi eternizada no documentário “Scream for Me Sarajevo”, que detalha os bastidores e as dificuldades da missão.
2. U2 e a Reconciliação Pós-Guerra em Sarajevo (1997)
Após o término da Guerra da Bósnia, em 1995, Sarajevo ainda era uma cidade marcada por cicatrizes. Mas em 23 de setembro de 1997, a capital bósnia viveu um momento histórico: o U2 se apresentou no Estádio Koševo para um público de cerca de 45 mil pessoas, durante a PopMart Tour.
A jornada do U2 com a Bósnia começou anos antes, quando, em plena Zoo TV Tour de 1993, a banda transmitiu ao vivo, via satélite, mensagens de moradores da cidade sitiada para os fãs ao redor do mundo. Essa ação ajudou a chamar a atenção internacional para a tragédia que assolava a região. O show de 1997 foi, portanto, a realização de uma promessa: voltar à cidade quando a paz fosse restabelecida.
O concerto teve forte apoio logístico da ONU e das forças de paz, inclusive com a retomada temporária de serviços de transporte para permitir que pessoas de diferentes partes da Bósnia chegassem ao estádio. Para muitos fãs, foi a primeira grande experiência cultural após anos de medo e isolamento. Bono, vocalista da banda, descreveu o show como “um ato de cura coletiva” e afirmou que aquele momento ajudou Sarajevo a recuperar parte da sua alma.
3. Bob Marley e o “One Love Peace Concert” (1978)
Embora não tenha sido realizado em um país oficialmente em guerra, o “One Love Peace Concert”, promovido por Bob Marley em 1978, foi um marco por sua capacidade de interromper um conflito interno. Na época, a Jamaica vivia uma verdadeira guerra civil urbana, com facções políticas rivais transformando as ruas em zonas de combate.
No auge das tensões, Bob Marley organizou o concerto no Estádio Nacional da Jamaica e convidou os líderes políticos Michael Manley e Edward Seaga, que representavam partidos inimigos. Em um dos momentos mais icônicos da história da música, Marley chamou os dois ao palco e os fez apertar as mãos diante de milhares de pessoas.
Embora a trégua não tenha durado por muito tempo, o ato foi um símbolo poderoso do que a música pode fazer: criar pontes onde antes só existiam muros. O “One Love Peace Concert” se tornou um dos eventos mais emblemáticos do reggae e da luta pela paz.
4. Ozzy Osbourne e o Moscow Music Peace Festival (1989)
No auge da Guerra Fria, em um evento que marcou simbolicamente o colapso das barreiras culturais entre o Ocidente e o bloco soviético, Ozzy Osbourne participou do lendário Moscow Music Peace Festival, realizado nos dias 12 e 13 de agosto de 1989 no Estádio Central Lenin (atual Luzhniki), em Moscou.
Organizado durante a era de glasnost e perestroika, o festival teve como objetivo promover a paz, combater o abuso de álcool e drogas e permitir o primeiro grande intercâmbio musical entre o Ocidente e a União Soviética. Ozzy foi uma das grandes atrações ao lado de Bon Jovi, Scorpions, Mötley Crüe, Skid Row, Cinderella e bandas russas como Gorky Park.
O evento reuniu mais de 100 mil pessoas em dois dias e foi transmitido para 59 países, incluindo os Estados Unidos via MTV. A apresentação de Ozzy, com clássicos como “War Pigs”, ressoou fortemente em um público ansioso por liberdade cultural. O festival ficou conhecido como “o Woodstock russo” e é considerado um marco no processo de abertura da União Soviética.
A música como arma de resistência
Esses episódios mostram que a música pode ser muito mais do que entretenimento. Ela pode servir como instrumento de resistência, reconciliação e até denúncia, levando esperança a pessoas que vivem sob o peso da guerra.
De Bruce Dickinson arriscando a vida para cantar em uma cidade sitiada, passando pelo U2 reunindo milhares de pessoas em um país traumatizado, até Bob Marley usando sua arte para fazer rivais apertarem as mãos e Ozzy Osbourne tocando em plena Moscou durante a Guerra Fria, esses artistas provaram que a música pode, sim, parar guerras — nem que seja por algumas horas.
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