As Últimas Palavras de Itamar: O Caderno que Acendeu a Voz de Anelis

Antes de partir, Itamar Assumpção escreveu reflexões, conselhos e fragmentos de letras para a filha. Anos depois, essas palavras se transformariam em música, força e legado.

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Redação - SOM DE FITA

6/10/2025

Quando o corpo já não permitia mais subir ao palco, Itamar Assumpção fez do papel sua última trincheira. Diagnosticado com câncer no intestino, o ícone da Vanguarda Paulistana sabia que o tempo estava curto. Em vez de se render ao silêncio, ele começou a escrever.

Para Anelis Assumpção, sua filha, ele deixou um caderno repleto de pensamentos, conselhos e fragmentos poéticos. Não se tratava de despedida — era um mapa de afeto e arte, traçado entre dores e esperanças. Anos mais tarde, essa herança se tornaria parte da alma de suas canções.

“Ele me deixou textos, reflexões, pensamentos... e eu guardei tudo com muito carinho. Quando fui começar minha carreira, essas palavras foram essenciais”, revelou Anelis em entrevista à Rolling Stone Brasil.

Um legado que pulsa

Itamar não era um artista qualquer. Negro, independente e incansável, ele construiu uma trajetória sem concessões à indústria ou à previsibilidade. Em vida, foi marginalizado por muitas gravadoras, mas cultuado como um gênio por artistas como Tom Zé, Ney Matogrosso e Chico Science.

Com sua morte, em 2003, parecia que um ciclo se encerrava. Mas Anelis, carregando aquele caderno como um relicário, deu continuidade ao que ele começou, transformando as páginas escritas entre hospital e silêncio em música viva.

Faixas como “Tecla SAP”, “Noturno Peixoto” e “Tchau Ofélia” são atravessadas por essa presença. Não são apenas homenagens — são diálogos entre pai e filha, entre passado e presente, entre dor e reinvenção.

“Aquela escrita foi um respiro pra ele e virou meu oxigênio depois”, disse Anelis em entrevista à TV Cultura.

Não há fim para a arte

O caderno de Itamar ainda não foi publicado. Ele permanece no acervo da família, guardado como uma memória íntima. Mas suas palavras continuam se espalhando por vozes, acordes e palcos — em cada disco de Anelis, em cada nova geração que descobre o que é ser livre e negro na música brasileira.

No fim das contas, Itamar não quis deixar um testamento — ele deixou uma centelha. E Anelis, com coragem e talento, acendeu essa chama de novo.

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