
ACE FREHLEY: o Spaceman que deixou marca além da fama do KISS
Guitarrista original falece aos 74 anos, e seu legado ressoa entre gerações do rock pesado
Redação - SOM DE FITA
10/17/2025




Ace Frehley, conhecido como o Spaceman do Kiss, faleceu na quinta-feira, 16, aos 74 anos. Internado desde o fim de setembro após uma queda em seu estúdio em casa, ele foi o primeiro integrante original da banda a falecer. Embora, por vezes, tenha sido criticado por ex-companheiros por sua postura e alegado desinteresse no trabalho, seu papel como artista e sua influência no cenário do rock pesado atingem proporções incontestáveis.
Da contracultura ao estrelato: as origens de Ace
Paul Daniel Frehley nasceu em 27 de abril de 1951, no Bronx, sistema nervoso de Nova York. Ali, cresceu em um ambiente familiar que permitia contato com arte e música desde cedo. Na juventude, quando ainda cursava os estudos, aproximou-se de guitarras influenciado por ícones como Jimmy Page, Eric Clapton e Jimi Hendrix — referências que moldaram sua sonoridade.
O caminho, porém, não foi linear. Em sua adolescência, Frehley chegou a entrar para gangues e até interromper o ensino formal por algum tempo. A passagem pela delinquência, no entanto, pouco combina com a figura de “astronauta do rock” que ele acabaria construindo — de espírito leve e com o dom de arrancar risadas.
Já no fim dos anos 1960 e início dos 1970, transitou por bandas pequenas e outros ofícios até que viu um anúncio: um trio procurava guitarrista. Foi num teste para essa vaga que se apresentou com um tênis laranja e outro vermelho, caminhando de modo desajeitado e ignorando quem estava à sua frente. O baixista e vocalista Gene Simmons recorda:
“Num determinado ponto, Bob Kulick, que mais tarde tocou com Meat Loaf, seria o guitarrista. Mas ele não tinha a aparência ideal. Falávamos com ele quando aquele cara [Ace] entrou com um pé num tênis laranja e o outro num vermelho, e um bigode meio alaranjado. Ele meio que se desequilibrou e foi direto contra uma das paredes. Ficava andando e ignorando todos. O cara era tão pirado, tão aéreo, voltado para o seu próprio mundo! Ainda tentou furar a fila.”
Quando Simmons o repreendeu, Frehley insistiu: “mas você não quer rock?”. E o rock veio. Sua performance no teste foi suficiente para ingressar no que viria a ser o Kiss — tendo participado até da concepção visual, inclusive do logotipo da banda.
Entre discordâncias e solos marcantes: o tempo no Kiss
A consagração do Kiss não foi imediata. Foi com Alive!, quarto lançamento da banda, que o público percebeu o potencial explosivo do grupo. Nele, Frehley teve espaço para mostrar sua força sonora e técnica.
Basta ouvir os solos em faixas como “Deuce”, “Strutter”, “Got to Choose”, “Parasite”, “She” e “Black Diamond” para notar sua coerência musical e criatividade. Até em “Rock and Roll All Nite” — canção que se tornaria um clássico — ele encontrou um momento para inserir um solo curto e bem pensado.



Ace Frehley, guitarrista fundador do Kiss, em registro de 2023 | Foto: Gary Miller/Getty Images

Sobre seu talento, Simmons admitiu, em entrevista à Guitar World:
“Ele sabia das coisas. Quando ele se importava — durante os três primeiros discos, eu diria —, ele era ótimo. Dava até para cantar aqueles solos dele. Era como ópera. A integridade de seu estilo era instantaneamente reconhecível. Assim que ele tocava, você sabia que era ele. Este é provavelmente o melhor elogio que você pode fazer a um guitarrista.”
Durante o auge do Kiss (décadas de 1970), Ace manteve atuações destacadas nos álbuns Destroyer (1976), Rock and Roll Over (1976) e Love Gun (1977). Em 1978, cada membro lançou um trabalho solo — e o de Ace foi o mais bem-sucedido comercialmente. Nos álbuns seguintes (Dynasty, Unmasked), assumiu maior protagonismo como compositor e vocalista.
Contudo, o convívio com as dependências materiais e os conflitos com Simmons e Paul Stanley levaram a sua saída em 1982. Durante cinco anos, experimentou uma carreira solo, com destaque para sua banda Frehley’s Comet, que atingiu disco de platina nos EUA. Publicou ainda mais dois trabalhos solos na década.
Em 1996, retornou ao Kiss, mas em um momento em que sua performance ao vivo já não era tão segura — e sua contribuição em estúdio, limitada. No álbum de reunião Psycho Circus (1998), por exemplo, tocou apenas em duas faixas. Em 2002, deixou novamente a banda definitivamente. Até o fim de 2023, o guitarrista Tommy Thayer incorporou a estética, os solos e até o modelo de guitarra de Ace para manter o legado sonoro do Spaceman.
A influência estendida e o legado eterno
Mesmo com discordâncias no convívio pessoal com colegas de banda, o talento de Ace Frehley deixou impressão duradoura entre guitarristas de peso. Nomes como Dave Mustaine (Megadeth), Slash (Guns N’ Roses), Dimebag Darrell (Pantera) e Tom Morello (Rage Against the Machine) citam-no como referência essencial.
Especialmente Dimebag, assassinado em 2004, foi enfático em elogio ao colega. Em entrevista à Guitar World (1993), declarou:
“Ace é deus, e o solo de ‘Shock Me’ é matador. A versão de estúdio tem muita produção nas partes de guitarra principal. Também adoro os efeitos, especialmente o phaser na última nota. Cara, eu fico todo nervoso apenas por falar de Kiss! O vibrato de Ace me cativou e sempre tento aplicá-lo ao meu toque. Ele conseguia extrair muito de uma única nota. Com ele, uma nota poderia tomar o lugar de 12 notas.”
Com sua morte, espera-se que o reconhecimento por sua importância seja ainda mais amplo — não apenas como membro fundador do Kiss, mas como guitarrista que ajudou a moldar o som e a imagem do rock pesado. Sua trajetória — das estripulias no teste de banda aos solos épicos e aos altos e baixos pessoais — mostra um artista inquieto e singular.
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