A história por trás do SECOS & MOLHADOS ganha nova leitura em série do Canal Brasil
“Primavera nos Dentes” revisita bastidores, conflitos internos e legado do trio que marcou os anos 1970
Redação - SOM DE FITA
11/17/2025




A trajetória do Secos & Molhados continua despertando interesse, debates e revisões quase cinco décadas depois do auge do grupo. Agora, parte dessa história retorna à televisão com Primavera nos Dentes – A História do Secos & Molhados, série documental que estreia nesta sexta-feira (31), às 21h30, no Canal Brasil. O projeto, dividido em quatro episódios, recupera tanto o impacto artístico do trio quanto os conflitos que anteciparam o fim da formação clássica.
Embora Ney Matogrosso seja hoje o rosto mais lembrado do grupo, a série também aborda as contribuições — e divergências — vividas ao lado de Gerson Conrad e João Ricardo. A produção busca apresentar um panorama amplo, mas sem perder de vista as tensões internas que, segundo os próprios integrantes, moldaram o ciclo rápido e intenso do Secos & Molhados durante a década de 1970.
Os bastidores revelados: divisão de cachês e disputas judiciais
Um dos pontos centrais da narrativa está na explicação sobre o rompimento do trio. Durante o evento de lançamento, Ney Matogrosso — atualmente com 84 anos — relembrou com simplicidade e franqueza a razão do fim do grupo:
“Acabou por causa disso [divisão de cachê]. Não foi por outra coisa. O nosso acerto inicial era assim: que todo o dinheiro que entrasse seria dividido igualmente entre os três.”
A afirmação não chega a ser inédita, mas reacende discussões que atravessam gerações de fãs. A série dá espaço para contextualizar a relação entre os músicos e como esses conflitos se agravaram à medida que o sucesso crescia e a exposição aumentava.
Outro ponto abordado é a ausência das músicas originais do Secos & Molhados na trilha sonora do documentário. João Ricardo, fundador do grupo, não autorizou o uso das canções, o que levou a uma disputa judicial entre ele e a produtora Santa Rita Filmes. Essa limitação poderia comprometer a fluidez da narrativa, mas a equipe encontrou alternativas para reconstruir a atmosfera sonora da época.
Mesmo diante da tensão jurídica, Ney afirmou que sua preocupação maior era evitar uma abordagem baseada em ataques pessoais: “Eu estava com medo de uma coisa: que tivesse alguém falando mal de alguém. Isso não existe. Eu me sentiria mal se estivesse dentro de um projeto para falar mal de alguém. E não é o caso. Lamentamos não ter as músicas, que são todas maravilhosas, mas resolvemos de uma outra maneira.”
Sem as faixas originais, a trilha sonora foi recriada por músicos que dialogam com a história do trio. O pianista Emilio Carrera e o baixista Willy Verdaguer retornaram aos estúdios para compor músicas inspiradas no som característico do grupo. Ney e Gerson Conrad voltam a dividir vocais na faixa “Ouvindo o Silêncio”, criada especialmente para o projeto.



Gerson Conrad (esq.), Paulo Mendonça (centro) e Ney Matogrosso (dir.) em depoimentos para o projeto | Foto: Divulgação

Onde assistir e como será a exibição da série
Primavera nos Dentes estreia nesta sexta-feira (31), às 21h30, no Canal Brasil. Os episódios seguintes serão transmitidos semanalmente, sempre no mesmo horário. O canal pode ser acessado pelo Globoplay, além de operadoras como SKY Brasil, Claro e outras plataformas de TV por assinatura.
A série busca equilibrar depoimentos, material de arquivo e reconstruções sonoras para oferecer ao público uma visão mais ampla sobre o grupo que marcou a cena brasileira no início dos anos 1970. Mesmo sem as músicas oficiais, a produção tenta manter o clima, a estética e a intensidade que tornaram o Secos & Molhados um fenômeno cultural.
Ao final da exibição, o público ainda pode conferir o clipe de “Ouvindo o Silêncio”, além de trechos divulgados previamente que mostram parte da abordagem visual e narrativa adotada pela equipe. Para quem acompanha a trajetória de Ney, Gerson e João Ricardo, o material funciona como um complemento aos muitos relatos já conhecidos, desta vez em formato seriado.
Ney Matogrosso revisita o passado com novo lançamento em vinil
A matéria original também remete a outro momento importante da carreira de Ney Matogrosso. No início do mês, o cantor apresentou — em parceria com o Noize Record Club — uma nova edição em vinil do álbum Bandido, de 1976, um dos discos mais emblemáticos da MPB.
A edição especial celebrou os 50 anos da obra e trouxe como brinde a Revista Noize #165, com reportagens inéditas sobre o período que consolidou Ney como um dos intérpretes mais expressivos do país. O álbum, conhecido pela fusão de ritmos como rock, bolero e samba, marcou uma das fases mais experimentais e performáticas do artista.
Bandido também é lembrado pela participação da banda Terceiro Mundo, formada por Roberto de Carvalho (guitarra), Jorge Olmar (violão), Berloque (bateria), Marcelo Salazar (percussão), Elias Mizrahi (teclas) e Jorge Carvalho (baixo). Entre os convidados, nomes de peso reforçam a importância da obra: Gilberto Gil toca violão em “A Gaivota”, enquanto Jaques Morelenbaum assina arranjos de cello em outras faixas.
A reedição do disco reforça o interesse contínuo por diferentes fases da carreira de Ney. Com a estreia da série documental e o relançamento de Bandido, o artista volta ao centro de debates que atravessam gerações, seja pela força de sua atuação musical ou pela forma como revisita sua própria história.
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