
A ausência do baixo em ...AND JUSTICE FOR ALLl: ex-produtor do METALLICA volta a falar sobre polêmica
Flemming Rasmussen relembra bastidores do álbum e critica a ausência do instrumento na mix final, enquanto James Hetfield e Lars Ulrich seguem defendendo a decisão
Redação - SOM DE FITA
10/2/2025






O álbum ...And Justice For All, lançado pelo Metallica em 1988, é frequentemente lembrado como um marco do thrash metal. No entanto, junto com o reconhecimento vieram críticas persistentes: a quase ausência do baixo no disco. Mais de três décadas depois, o tema continua sendo motivo de debates acalorados entre fãs, músicos e até mesmo os envolvidos na produção. Flemming Rasmussen, produtor dinamarquês que trabalhou em três clássicos da banda, voltou a se pronunciar recentemente sobre essa escolha que até hoje gera polêmica.
Flemming Rasmussen revela bastidores da gravação
Em entrevista à rádio chilena Futuro, Rasmussen relembrou como recebeu a primeira audição do álbum e questionou de imediato a decisão de reduzir o baixo. “Lars tem uma coisa de sempre me mostrar os discos antes de lançar. Ele tocou o …And Justice For All e eu disse: ‘O que é isso?’. Ele respondeu: ‘Esse é o mix’. Então eu disse: ‘Não, não é. Vocês esqueceram o baixo’. Mas realmente não havia baixo ali”, contou.
O produtor explicou que não participou da mixagem, já que havia entrado no processo depois de Mike Clink ter iniciado as gravações. Mais tarde, os engenheiros Steve Thompson e Michael Barbiero foram contratados para finalizar o trabalho. Segundo Rasmussen, o próprio Lars Ulrich teria pedido para reduzir ainda mais o baixo: “Tem vídeos no YouTube do Steve Thompson explicando isso. Lars disse: ‘Agora abaixem o baixo até que mal dê para ouvir’. E quando eles fizeram isso, Lars pediu: ‘Tirem mais três decibéis’. Por que eles decidiram assim, eu já perguntei mil vezes. Não sei a resposta”, afirmou.
Para Rasmussen, parte da decisão pode ter ligação com o fato de Jason Newsted estar gravando seu primeiro álbum de inéditas com a banda, após a morte de Cliff Burton em 1986. “Cliff era mais livre e compunha muito. Jason não participou da composição desse disco. Acho que metade do motivo foi que Lars e James perceberam que não tinham mais o Cliff e não conseguiam se conectar com aquele som diferente. E a outra metade, talvez, foi para irritar Jason, já que ele sempre concordava com tudo e nunca questionava nada”, especulou o produtor.
A defesa de Hetfield e as versões oficiais
Enquanto Rasmussen insiste que a ausência de baixo foi uma escolha deliberada, James Hetfield já apresentou outra visão sobre o caso. Em entrevistas anteriores, o vocalista afirmou que o desgaste da banda na época, entre turnês e sessões de estúdio, influenciou diretamente no resultado sonoro. “Queríamos o melhor disco possível. Estávamos fritos, cansados, sem dormir. Íamos para o estúdio com a audição prejudicada. Se você não ouve mais as frequências graves, acaba aumentando os agudos. Foi isso que aconteceu. Não foi uma questão de ‘foda-se o Jason, vamos abaixar ele’. De jeito nenhum”, declarou Hetfield.
O frontman também já deixou claro que não vê sentido em relançar o álbum com o baixo mais presente: “Por que mudaríamos isso agora? Por que mudar a história? Você pode remasterizar, mas remixar não faz sentido. Seria como pegar a Mona Lisa e dizer: ‘Será que dá para fazer ela sorrir um pouco mais?’. Por quê?”, argumentou.
Mesmo diante das críticas, Hetfield reforça que ...And Justice For All foi fruto de um processo intenso e experimental, e que a sonoridade final representa exatamente a fase pela qual o Metallica passava naquele momento.
Kirk Hammett, Steve Thompson e a visão técnica
O guitarrista Kirk Hammett também já tentou explicar a polêmica, apontando para um conflito de frequências entre o timbre do baixo de Newsted e a guitarra rítmica de Hetfield. “O problema é que as frequências do baixo interferiam com o som que James queria para a guitarra. Quando misturávamos os dois, não funcionava. Então a única solução foi abaixar o baixo. Foi uma experiência, um som cru e direto, e muita gente gosta do resultado até hoje”, disse Hammett.
Já Steve Thompson, um dos engenheiros de mixagem, afirmou em entrevista que foi injustamente acusado pelo resultado final. Segundo ele, apenas seguiu as instruções da banda. “Lars queria que a bateria soasse de um jeito específico, mesmo que isso significasse cortar o baixo. Eles me contrataram, eu fiz meu trabalho. Não tenho nada a pedir desculpas”, declarou.
Thompson chegou a relatar que, anos depois, durante a cerimônia de introdução do Metallica no Rock and Roll Hall of Fame, o próprio Lars o questionou: “O que aconteceu com o baixo em Justice?”. Thompson admitiu que se sentiu ofendido: “Quase acertei ele ali mesmo. É uma pena, porque sou eu quem leva a culpa por essa história até hoje”.
O legado do álbum, apesar da polêmica
Curiosamente, apesar da ausência do baixo, ...And Justice For All se tornou um dos discos mais influentes do Metallica, gerando debates e inspirando novas gerações de músicos. Rasmussen lembra que, em retrospectiva, o impacto foi maior do que se imaginava: “Li recentemente que …And Justice For All é o álbum número um no mundo citado como inspiração para bandas começarem. Então, se você quer montar um grupo, só não seja o baixista”, ironizou o produtor.
Com clássicos como One, Blackened e Harvester of Sorrow, o disco ajudou a consolidar o Metallica como gigante do metal, mesmo que as discussões sobre seu som sigam até hoje. Para alguns fãs, a ausência do baixo é um erro imperdoável; para outros, é justamente o que torna o álbum único e inconfundível.
A história do baixo “sumido” em ...And Justice For All continua sem uma resposta definitiva. Para Rasmussen, foi uma escolha de Lars e James que talvez nunca seja plenamente explicada. Para Hetfield, foi consequência do desgaste e de uma busca por clareza sonora. E para os fãs, segue sendo uma das maiores controvérsias da discografia do Metallica.
O certo é que, mesmo com ou sem graves, o álbum entrou para a história da música pesada e deixou um legado que atravessa gerações.
Metallica em 1988. | Crédito da imagem: Paul Natkin/WireImage

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